19 de dez. de 2010

"Eu me tornei o que sou hoje aos doze anos, em um dia nublado e gélido do inverno 1975. Lembro do momento exato em que isso aconteceu, quando estava agachado por detrás de uma parede de barro parcialmente desmoronada, espiando o beco que ficava perto do riacho congelado. Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de pordermos enterrá-lo. Porque de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar. Olhando para trás, agora, percebo que passei os últimos vinte e seis anos da minha vida espiando aquele beco deserto."

- Khaled Hosseini - O Caçador de Pipas

17 de dez. de 2010

O Tempo


O tempo passa, deixa as folhas das velhas cartas amareladas, deixa a poeira como manto de tudo, mas não consegue amenizar as coisas dentro de mim. É como as flores que passam do vermelho ao marrom, sem perder a intensidade, nem mesmo o significado...

- Roberta

10 de dez. de 2010

Ela saiu do banho e com a água ainda escorrendo, olhou-se no espelho. Olhos diferentes, rosto diferente, corpo diferente. Aquela mulher que ele tinha feito caiu por terra, morta, e hoje jazia naquele momento congelado, naquelas palavras insinuantes contemporâneas às juras de amor eterno. Enquanto ela se arrumava, era com outra que ele falava. Enquanto ela, idiotamente preparava um presente de natal antecipado e uma carta cheia daquele amor que voltava a ser o que era, ele se interessava pelos planos e pela noite de sono de outra pessoa... A mulher não existia mais, existia aquela menina acuada, tremendo, nua e molhada naquele banheiro branco...

-Roberta

8 de dez. de 2010

No compasso da desilusão

"Solidão é lava
Que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo

Solidão palavra
Cavada no coração
Resignado e mudo,
No compasso da desilusão...

Viu!
Desilusão, desilusão,
Danço eu, dança você
Na dança da solidão.

Camélia ficou viúva,
Joana se apaixonou,
Maria tentou a morte por causa do seu amor.
Meu pai sempre me dizia,
Meu filho tome cuidado,
Quando penso no futuro,
Não esqueço o meu passado..."


- Dança da Solidão - Paulinho da Viola

7 de dez. de 2010

when failing to write...


Can't change this feeling, we're out of touch. Can't change this meaning, it means too much.
And I remind myself of somebody else.
I've got somebody else's thoughts in my head, I want some of my own.

"Gritar pro mundo e saber, que o mundo não presta atenção..."

Ela acordou com aquela sensação, nem o banho gelado as seis da manhã, nem a corrida na academia, nem a tarde de trabalho, nem os vários cigarros em momentos roubados não foram capazes de apaziguar a angustia, nem mesmo o chocolate...
Estava cansada de gritar para dentro de si mesma, queria gritar para o mundo, queria que todos soubessem como ela se sentia. Queria gritar para as amigas para que parassem de pensar em festas de natal e amigos-secretos, queria que ele parasse de fingir que nada havia acontecido, que apenas uma vez, por um breve minuto alguém ouvisse ela cuspir todas as mágoas e depois abraçasse-a, que dissesse que sabia que ela não estava bem, mas que estava ali.
Queria que a chuva caísse com força para lavar a alma, ou que o sol ardesse na pele, queimando toda a angustia.
Assim, foi até o banheiro, e se olhou no espelho, nua. Viu a meia-luz refletir no alto dos seios, fazendo sombra sob eles. Viu o umbigo tornar-se um ponto escuro, viu os quadris e as pernas. Olhou tudo, mas deteve-se no rosto, onde as lágrimas deixavam caminhos negros de rímel. Olhou os olhos tristes já conhecidos, inebriados daquela dor familiar, aquela de saber-se sozinha no mundo. Passou a mão entre os cabelos e por instinto fechou os dedos, arrancando mexas e mais mexas. Deixou que as mãos descessem pelo rosto, sentindo as unhas cravarem na pele do rosto, acompanhando as marcas de maquilagem lavada à lágrimas. Deixou que as unhas descessem rasgando os ombros, os braços e também a barriga. A dor ainda não era o suficiente. Remexeu a gaveta, e no fundo achou a velha lâmina, companheira de outras passagens... Segurou-a forte no braço e puxou. Viu o sangue carmim brotar, lívido; e a dor a preencher como um anestésico. Ao redor do corte fresco, tantas outras cicatrizes... Histórias, ela pensou, minha história contada nas linhas da minha pele.
Ligou o chuveiro e deixou a água queimar sobre o coro cabeludo agredido, o rosto, os braços e a barriga arranhada e sobre o corte novo, fazendo arrepios de dor e rastros de sangue no piso branco. Deitou-se no chão e fechou os olhos por breve cinco minutos, sentindo todas as coisas que queria gritar, saindo, por todas aquelas frestas que ela criara...

- Roberta

1 de dez. de 2010

A Inversão do Fim

Ela era uma menina apaixonada, por tudo. Apaixonada pelo mundo, pela vida. Era romântica até os ossos. Falava como poesia, sentia a intensidade das pessoas e queria amar para sempre.
Ele era distante. Protegido atrás de uma falsa tranquilidade e indiferença ao mundo. Não amava, nunca tinha amado. Não queria amar. Não acreditava em romances, era prático.
Eles se conheceram, e apaixonadamente ela o fez se abrir. E ele, praticamente a fez pensar na realidade das coisas.
E quando acabou, sobraram doi invertidos.
Ela, como romântica, agiu racionalmente. E ele, como um homem prático, morreu de amor e continuou vivo...
Ela nunca foi tão ele e ele nunca foi tão ela, mas hoje, cada um, é um e não mais dois...

-Roberta.

will i?

Dizem que a memória se esvai e morre lentamente.
Será que algum dia eu vou esquecer?
As lembranças não estavam mortas para serem enterradas, apenas joguei-as ao vento esperando que ele as levasse para longe de onde elas não mais pertenciam.
Mas uma vez ou outra elas voltam com o vento, em forma de uma brisa quente de verão. E mesmo com o toque caloroso elas deixam o frio e o vazio quando se vão, e sempre a dúvida:
Algum dia eu vou esquecer?