29 de ago. de 2010

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"Nós temos vivido juntos por um bom tempo,
E eu ainda não entendo a Nana completamente.
Você... me perdoaria por te machucar assim?
(...)"

-Nana; episódio 23.

22 de ago. de 2010

Menos mais um

Acorda, faz mamá, liga a TV, chama para o banho, chama para o banho outra vez, coloca no banho, lava, seca, arruma. Entra no banho, lava, seca, arruma. Almoça, escova os dentes, chama pra escovar os dentes, chama outra vez para escovar os dentes, sai correndo, deixa na escola, chega atrasada no trabalho. Ufa! Saí do piloto automático e sente o peito apertado de cansaço. O dia mal começou, melhor que estivesse terminando.
Sai da aula, corre pra casa, chega em casa, responde perguntas, chama pra escovar os dentes, chama pra escovar os dentes outra vez, escuta as ameaças e os xingamentos, escova os dentes, lava, seca, arruma. Põe na cama, faz mamá, liga a TV, senta do lado, espera dormir, coloca na cama. E terminou... Mais um dia, finalmente. Olha no relógio: são 00:29, sabe que agora começa seu dia, os momentos que tem pra si mesma, os momentos que respira fundo e consegue sentir. Os momentos em que escreve pra desabafar, respira pra acalmar e chora pra viver.
Um dia a menos na contagem regressiva. E ela espera, não sabia esperar, mas a maternidade lhe trouxe esse dom, fingir ter paciência, mesmo que o corpo trema e o coração esteja explodindo, ainda que a vontade seja matar ou morrer. Paciência de ver o sol trazer mais um dia e fazer tudo outra vez, do mesmo jeito. Não se esforça pra ser melhor, não tem forças, concentra seu esforço apenas em repetir, tudo igual, sem vida, nem cor, só fazer. Obrigações cumpridas são obrigações cobradas de uma maneira menos agressiva. Precisa se concentrar em não responder aos olhares reprovadores, em não fugir, em não desmoronar. Precisa se esforçar em se manter afastada para manter a sanidade mental.
Está no fim, e por mais assustador que isso possa soar, é mais agradável que a repetição que esmaga, que faz o coração querer rasgar o peito e a deixa sem ar... Ansiedade ao desconhecido? Um pouco talvez, mas muito mais saco cheio do tão, tão, tão, tão, tão repetido...

-Roberta

*Faltam 489 dias para a vida começar.

21 de ago. de 2010

Ela fecha os olhos e espera o sono, ele tem fugido nos últimos tempos, como se ali não fosse mais o lugar. Nela, agora, imperam os pensamentos que não param...
O que você quer? Onde você vai? Onde vai parar? Porque você pensa que quer isso?
Os pensamentos espantam o sono. O sono é egoísta, só fica onde reina supremo, e nela, o espaço vazio foi preenchido pelas dúvidas: Ela não sabe o que quer, ela não sabe se é capaz de chegar onde, no fundo, ela sabe que quer ir; ela não sabe se tem coragem pra ir tão longe.
Disseram pra ela: "Você vai chegar, você é maior que tudo isso, não se limite, amplie..."
A cabeça concorda, mas o coração aperta.
É isso que acontece dentro dela, uma guerra. Lados opostos de uma mesma moeda. Extremos de um mesmo continuo. A cabeça, que manda ir, que manda para, que manda deixar. E o coração que dói quando pensar ficar sem, que diz que sim, que diz não querer, que diz que vai! E agora, pra que lado é o certo? Ela fecha os olhos e a música toca: "Viver entre um sonho e a merda da sobrevivência..." Ela queria saber, de verdade, de coração.
Ela olha o relógio, mas sabe que não vai dormir. Sabe que vai deitar, e tudo aquilo que ela afastou durante todo o dia, vai estar lá esperando... Como se fosse um tropa de soldados inimigos, de tocaia... Ela vai deitar a cabeça e fechar os olhos, e vai sentir os pensamentos tomando conta do que antes estava sereno, um a um, de maneira sádica, doendo aos poucos. Ela hoje sente a dúvida como o frio: que começa aonde está descoberto, mas que após um tempo, invade a roupa, ultrapassa a pele e se aloja próximo ao osso, onde nada alcança pra poder tirar. Dói sem remédio.
Ela tenta esquecer e deixar as coisas como eram antes... Mas os pensamentos estão ali, quando ele sai, eles estão ali, esperando pacientemente pra ocupar seu lugar.
Ela deita e espera, espera, espera, o sono vem aos poucos, e ela dorme. De repente, ela sente-se despertar por algo que pula como se quisesse fugir, como se fosse explodir. O ar não entra mais... Ela senta na cama e tenta respirar...
Ela queria entender o que isso quer dizer, mas não consegue...

-Roberta

18 de ago. de 2010

Tem uma coisa estranha que ronda. Uma estranheza atípica de todos os sentimentos que se mostram aflorados, como se as coisas que acontecem passassem como vento, tirando a fina proteção que a poeira do tempo havia criado sobre as feridas cicatrizadas de maneira falsa, como se os sonhos tivessem se desvanecido em uma sombria manhã de julho.
Sinto-me como uma folha em início de outono, que dorme presa a sua árvore, e acorda em lugar totalmente desconhecido, com uma cor diferente e um futuro incerto e definitivo. Perdi alguma coisa dentro de mim mesma.
Uma vez, dizia que guiava minha vida pelas estrelas, depois cresci e percebi que é preciso sonhar, mas é preciso ter objetivos. Cresci, tive uma filha e entrei na faculdade e assim passei a guiar minha vida por metas. Hoje, quando estou mais perto do que nunca do meu sonho, sinto que as estrelas caíram do céu e minhas metas são impossíveis e com isso, passei a guiar minha vida pelo medo. Tenho medo do futuro. Tenho medo de dormir e acordar com o mundo totalmente diferente, tenho medo de não chegar nem na metade do caminho que tracei pra mim, tenho medo de sair na rua e do que vou encontrar na próxima esquina. Tenho medo de não encontrar o que procuro. Tenho medo de acordar e tenho medo de dormir.
Cresci ouvindo dizer que crescer dói. Sempre imaginei que essa dor era algo físico, do corpo que estica e aumenta. Hoje, descobri que a dor de crescer vem de não caber mais no colo, nem embaixo da cama, muito menos no armário. Vem de não poder se esconder do mundo, nem das responsabilidades. Vem das responsabilidades que o tempo traz. Crescer dói.
Ter medo também dói, porque nos mostra nossa incapacidade frente as coisas, nossa falhas.
Gostaria de voltar atrás, mas ainda que fosse possível, o caminho seria longo demais e isso, também me dá medo...

-Roberta.

11 de ago. de 2010

Sem nome.

Ela respira fundo, e mais uma vez, as coisas passam sem que sejam entendidas!
Todos os dias, é como se a hora fizesse com que as coisas se repetissem, noite após noite: o que começa de brincadeira, termina em angústia; é como brincadeira de criança, começa bem e termina mau.
Ela não sabe de onde vem tamanha estranheza, se dele ou dela, ou se esta já se instalou entre ambos, como um precipício.
Todos os dias, quando tudo recomeça - como uma maldição, ela fecha os olhos e procura aquela sintonia que uma vez envolveu os corpos, alinhou os olhares e singularizou as palavras. Onde foi parar? Ela queria saber... Ela queria de volta! Mas quando fecha os olhos o medo vem. Uma vez, quando fechava os olhos, podia sentir ele pensando nela e isso a deixava segura. Hoje, quando fecha os olhos encontra o vazio. Quando fecha os olhos, encontra o precipício, que por estar entre ambos, quando mais ela se aproxima dele, mais na beira ela chega.
Ela queria saber como ele sente, se ele percebe, se isso é dele, ou dela. Ela queria as respostas dele, mas no lugar tem apenas o silêncio, e um "boa noite" sem te amo... Tem uma falsa formalidade, quando no lugar do tradicional "te quero" vem um "tenha uma boa noite"; tem uma distância quilométrica onde antes não havia espaço, onde antes estavam os corpos tão próximos que eram quase um.
Os olhos não olham mais na mesma direção, as bocas não encontram-se mais com fome, as corpos não ocupam mais o mesmo lugar no espaço e no tempo. As coisas não são mais as mesmas.
Onde isso começou? Ou o que terminou, que deu lugar a isso? Ninguém sabe, ou ninguém fala, mas ela sente e isso dilacera a alma e faz o coração parar de bater, faz a respiração faltar, faz do mundo um lugar nada bom.
Todas as noites a mesma coisa:
Ele diz, ela responde; Ele sai, ela toma banho e deita; As lágrimas chegam, molham o travesseiro; os dedos procuram o calor daqueles braços, mas lá só tem dor e solidão e a lembrança de um calor de segurança e a frieza da ausência de tudo que realmente importa...

-Roberta

10 de ago. de 2010

De mim mesma

Se quiser saber de mim lê o que escrevo, é lá que vais me achar da maneira mais sincera. Quando escrevo faço-o para tentar organizar o que dentro de mim é bagunça; Essa sou eu, Roberta.
Desde quando me lembro tenho como companhia minha ansiedade. Em alguns momentos em picos que me deixam sem ar e me fazer tremer por dentro, em outros momentos, apenas como uma vaca, ruminando aquela sensação que localiza-se entre o peito e o umbigo, que não sobe nem desce.
Não sou bonita nem feia, mas ainda recebo assovios quando passo em construções.
Dizem que minha bunda é grande, mas meus sonhos, são maiores ainda.
Sou uma sonhadora inveterada, acredito nas pessoas e na necessidade de ser alguém melhor, ainda que de maneiras tortas. Chamam-me de utópica, não consigo ser de outra forma, me guio por meus sonhos, e coloco-os no céu. (Deve ser por isso que chamam-me de nariz empinado...).
Não gosto quando não gostam de mim, principalmente porque as pessoas não gostam de mim por motivos errados. Tenho tantas coisas detestáveis, aproveitem-se delas:
Sou ciumenta, paranóica e possessiva. Sou insegura, desorganizada e estou sempre atrasada. Me irritar é difícil, mas se você conseguir vai transformar um dia de sol em uma tempestade de verão: é bravo, furioso, negro e passa rápido! Não me ofendo com facilidade, mas esqueço em questão de minutos. Em compensação, minha memória é muito boa - nunca esqueço um rosto, nem a matéria da prova. Não tenho muita paciência e as vezes, tenho paciência demais. Sou sincera - mas minto como ninguém. Tenho cara de nojenta, fútil e filhinha do papai, o último, sou mesmo!
Mas, por incrível que pareça, também tenho coisas boas: faço amigos até atravessando a rua, falo por 15 pessoas e acho graça de qualquer piada (por pior que ela seja). Como de tudo, em qualquer lugar e até sem companhia. Se falo por 15 pessoas, falo palavrões por 35 pessoas daquelas boca-suja pra CARALHO! Me adapto fácil (principalmente regada a uísque). Sou desastrada e considero isso um charme (percebe minha ironia?).
Quando era criança, diziam que eu não era normal. Na adolescência, as mães das outras meninas diziam que eu "não prestava" e hoje, prefiro não comentar o que dizem de mim. Mas nunca fui presa (pelo menos não em uma cela).
Sou melancólica, ainda que sempre procure ver o lado bom das coisas.
Choro com facilidade, tanto por estar feliz, como por estar triste.
Já tive "tendências" suicidas, mas nunca tive coragem de ir a fundo. Hoje, tenho apenas dias cinzas, mas costumo me agarrar ao fato de que o sol sempre volta a brilhar.
Costumo me esconder atrás de um muro. Enquanto isso, vou ser o que esperarem de mim... Freud explica!
Minha cabeça funciona muito rápido, por isso falo sozinha e rio sozinha (não vale a pena perguntar porque, normalmente é uma coisa: putaria!).
Não sei desenhar, não canto, não toco instrumentos, não tenho nenhum talento especial no esporte, resumindo, não tenho dons e esse é meu maior dom: sobreviver sem dom nenhum!
Me acho irritantemente normal.
Há pessoas que me comparem a Vani (da série Os Normais), também vejo semelhanças na nossa normalidade, mas elas passam longe da silhueta!
Essa sou eu: sem contornos e sem forma definida, só eu, sem meias palavras...

-Roberta.

Ao ciúme

Você chega de arroubo, e leva a minha paz.
Depois que tudo começa, o sono vai pra outras paragens, o amor se encolhe em um canto, a paz quase some e a insegurança toma conta, tomando tudo de gosto amargo, fazendo do meu mundo um lugar escuro.
As mínimas coisas te provocam e quando, solta-se de sua prisão, aperta o peito e esmaga a alma, sufocando até os sentidos, espalhando-se pelo corpo.
Só vens, e não avisa.
Vem com força e com cor, vermelho vivo.
Vem com raiva e com dor.
Tuas passagens, acabam com o que há de mais cômodo e segura,
Transformando em força o que de mais cansado já era sem fôlego.
Porque comigo?
Eu tento fugir, mas você está dentro de mim.
Maldito sentimento...

-Roberta.

6 de ago. de 2010

Compulsão à repetição

De repente, tudo é escuro e sozinho. Se não fosse pelas vozes, que falam e riem, conversam sem se dar do conta do que acontece, ela pensaria não haver outras pessoas a sua volta, mas há. Há e ela sabe que ele está, pode senti-lo.
Ela caminha, caminha e caminha, tentando se aproximar daquelas vozes felizes, afinal de contas, ela também quer ser feliz. Ela caminha e não chega. O escuro que transbordou de sua alma cobre tudo como um manto, impedindo que se veja a felicidade, , é possível apenas ouvi-la das bocas alheias. Enquanto procura, começa a se desesperar, pois sabe estar perto dele, mas não vê-lo sempre a deixa sem ar. Ela continua a procurar e acaba esbarrando em algo. Sabe o que é, ou melhor, quem é! Esse cheiro, hoje, é inconfundivel. É cheiro de segurança, de amor, de paraíso e de saudade. É cheiro que envolve e que faz lembrar os melhores momentos. É o cheiro dele, aquele cheiro que emana da pele morena a cada movimento. Ela esbarra, nela as coisas se alvoroçam. Sente-se viva, mas nele nada acontece. Encosta-se nele, colando o ouvido nas costas largas e sente a vibração da voz e o arfar da respiração e abraçada a ele percebe que este não sabe que ela está ali. É nesse momento que a angústia começa; ele não sabe. Ela grita, mas ele continua rindo, ela chama e implora, mas ele não interrompe a conversa. Ela gruda-se a ela, aperta, sacode e nada. Nem mesmo as lágrimas grossas que encharcam-lhe a blusa, ele parece sentir. Um arrepio de dor percorre o corpo dela, será que ele a esqueceu? Ou será que pra ele, ela nunca existiu? Ela não sabe o que fazer, apenas fica, agarrada a ele, gritando e chorando, chamando-o, mas ele nada. Ele fala de uma menina boba, que muitas vezes chorou no seu ombro, que outras vezes riu até ficar sem ar na sua cama, que muitas vezes tentou ser sensual para agradá-lo. E entre risadas sinceras, conta as coisas que essa menina fez, e como, quanto mais importante tentou ser, mas insignificante se tornou. "Coitada, ela acreditou no amor" ele diz e ri. Nesse momento, ela sente como se milhares de facas lhe atravessassem o corpo. Nunca sentiu nada tão doido. Ao fundo, ouve alguém chamando-a: "Amor, amor". É aquela voz, aquela voz de veludo que sussurra no seu ouvido. Ela acorda e em um misto de dor e alivio, olha dentro dos olhos cor de âmbar e tenta ver se ali alguma coisa mudou. Ela respira fundo e tenta conter as lágrimas. Encontra seu lugar entre aqueles braços e ouve ele dizer, próximo a seu ouvido: "Pesadelo de novo amor? Passou...". Ela sabe que passou. Pelo menos dessa vez.
Mas ela sabe que esse maldito sonho vai voltar, ele sempre volta.
E ela não acredita em premonição, não sabe apenas se por convicção ou sobrevivência.
Esse golpe seria fatal no seu coração cansado...

-Roberta (Sobre um sonho, que se repete a muitas, muitas e muitas noites).