19 de dez. de 2010

"Eu me tornei o que sou hoje aos doze anos, em um dia nublado e gélido do inverno 1975. Lembro do momento exato em que isso aconteceu, quando estava agachado por detrás de uma parede de barro parcialmente desmoronada, espiando o beco que ficava perto do riacho congelado. Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de pordermos enterrá-lo. Porque de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar. Olhando para trás, agora, percebo que passei os últimos vinte e seis anos da minha vida espiando aquele beco deserto."

- Khaled Hosseini - O Caçador de Pipas

17 de dez. de 2010

O Tempo


O tempo passa, deixa as folhas das velhas cartas amareladas, deixa a poeira como manto de tudo, mas não consegue amenizar as coisas dentro de mim. É como as flores que passam do vermelho ao marrom, sem perder a intensidade, nem mesmo o significado...

- Roberta

10 de dez. de 2010

Ela saiu do banho e com a água ainda escorrendo, olhou-se no espelho. Olhos diferentes, rosto diferente, corpo diferente. Aquela mulher que ele tinha feito caiu por terra, morta, e hoje jazia naquele momento congelado, naquelas palavras insinuantes contemporâneas às juras de amor eterno. Enquanto ela se arrumava, era com outra que ele falava. Enquanto ela, idiotamente preparava um presente de natal antecipado e uma carta cheia daquele amor que voltava a ser o que era, ele se interessava pelos planos e pela noite de sono de outra pessoa... A mulher não existia mais, existia aquela menina acuada, tremendo, nua e molhada naquele banheiro branco...

-Roberta

8 de dez. de 2010

No compasso da desilusão

"Solidão é lava
Que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo

Solidão palavra
Cavada no coração
Resignado e mudo,
No compasso da desilusão...

Viu!
Desilusão, desilusão,
Danço eu, dança você
Na dança da solidão.

Camélia ficou viúva,
Joana se apaixonou,
Maria tentou a morte por causa do seu amor.
Meu pai sempre me dizia,
Meu filho tome cuidado,
Quando penso no futuro,
Não esqueço o meu passado..."


- Dança da Solidão - Paulinho da Viola

7 de dez. de 2010

when failing to write...


Can't change this feeling, we're out of touch. Can't change this meaning, it means too much.
And I remind myself of somebody else.
I've got somebody else's thoughts in my head, I want some of my own.

"Gritar pro mundo e saber, que o mundo não presta atenção..."

Ela acordou com aquela sensação, nem o banho gelado as seis da manhã, nem a corrida na academia, nem a tarde de trabalho, nem os vários cigarros em momentos roubados não foram capazes de apaziguar a angustia, nem mesmo o chocolate...
Estava cansada de gritar para dentro de si mesma, queria gritar para o mundo, queria que todos soubessem como ela se sentia. Queria gritar para as amigas para que parassem de pensar em festas de natal e amigos-secretos, queria que ele parasse de fingir que nada havia acontecido, que apenas uma vez, por um breve minuto alguém ouvisse ela cuspir todas as mágoas e depois abraçasse-a, que dissesse que sabia que ela não estava bem, mas que estava ali.
Queria que a chuva caísse com força para lavar a alma, ou que o sol ardesse na pele, queimando toda a angustia.
Assim, foi até o banheiro, e se olhou no espelho, nua. Viu a meia-luz refletir no alto dos seios, fazendo sombra sob eles. Viu o umbigo tornar-se um ponto escuro, viu os quadris e as pernas. Olhou tudo, mas deteve-se no rosto, onde as lágrimas deixavam caminhos negros de rímel. Olhou os olhos tristes já conhecidos, inebriados daquela dor familiar, aquela de saber-se sozinha no mundo. Passou a mão entre os cabelos e por instinto fechou os dedos, arrancando mexas e mais mexas. Deixou que as mãos descessem pelo rosto, sentindo as unhas cravarem na pele do rosto, acompanhando as marcas de maquilagem lavada à lágrimas. Deixou que as unhas descessem rasgando os ombros, os braços e também a barriga. A dor ainda não era o suficiente. Remexeu a gaveta, e no fundo achou a velha lâmina, companheira de outras passagens... Segurou-a forte no braço e puxou. Viu o sangue carmim brotar, lívido; e a dor a preencher como um anestésico. Ao redor do corte fresco, tantas outras cicatrizes... Histórias, ela pensou, minha história contada nas linhas da minha pele.
Ligou o chuveiro e deixou a água queimar sobre o coro cabeludo agredido, o rosto, os braços e a barriga arranhada e sobre o corte novo, fazendo arrepios de dor e rastros de sangue no piso branco. Deitou-se no chão e fechou os olhos por breve cinco minutos, sentindo todas as coisas que queria gritar, saindo, por todas aquelas frestas que ela criara...

- Roberta

1 de dez. de 2010

A Inversão do Fim

Ela era uma menina apaixonada, por tudo. Apaixonada pelo mundo, pela vida. Era romântica até os ossos. Falava como poesia, sentia a intensidade das pessoas e queria amar para sempre.
Ele era distante. Protegido atrás de uma falsa tranquilidade e indiferença ao mundo. Não amava, nunca tinha amado. Não queria amar. Não acreditava em romances, era prático.
Eles se conheceram, e apaixonadamente ela o fez se abrir. E ele, praticamente a fez pensar na realidade das coisas.
E quando acabou, sobraram doi invertidos.
Ela, como romântica, agiu racionalmente. E ele, como um homem prático, morreu de amor e continuou vivo...
Ela nunca foi tão ele e ele nunca foi tão ela, mas hoje, cada um, é um e não mais dois...

-Roberta.

will i?

Dizem que a memória se esvai e morre lentamente.
Será que algum dia eu vou esquecer?
As lembranças não estavam mortas para serem enterradas, apenas joguei-as ao vento esperando que ele as levasse para longe de onde elas não mais pertenciam.
Mas uma vez ou outra elas voltam com o vento, em forma de uma brisa quente de verão. E mesmo com o toque caloroso elas deixam o frio e o vazio quando se vão, e sempre a dúvida:
Algum dia eu vou esquecer?

30 de nov. de 2010

Parabéns!

Enquanto ela mexia distraída em suas coisas, encontrou uma anotação na sua agenda que fez o mundo, por um breve minuto parar: "1º de Dezembro - 1 Ano de Namoro!"... Ela não sabia o que dizer, nem o que pensar. Sabia apenas que assim que o relógio marcasse meia-noite, as coisas que ela havia imaginado para esse dia, teriam, definitivamente, não se realizado. Todos os planos feitos na penumbra daquele quarto, as juras trocadas sobre os lençóis, as promessas feitas ao pé do ouvido, os sonhos que começaram com o verão, enfrentaram inverno e não viram sua estação descendente novamente. Tudo isso, hoje, passou... Como o sol que nasce, irradia, ilumina e aquece, e quando acostuma-se a ele, ele se põe, deixando só resquícios de um calor bom...
Ela pensa: "Um ano passado... Até parece que foi ontem..." Ela só sente que o tempo passou, quando consegue ver em si mesma as marcas dele. Os outros talvez não percebam, mas onde ele esteve, sua pele ficou vincada, como se moldada apenas para recebê-lo. E hoje, após um ano passado, ela prefere que ninguém mais se encaixe no lugar que é dele, por direito.
Enquanto pensava nessas coisas, olhava o relógio sem parar. Como quem tem medo da meia-noite. Como uma Cinderela, que vê o sonho partir com as doze badaladas da dura realidade que mostra como esses breves momentos de sonhos não são suficientes para abrandar uma realidade de dor, mas marcam uma vida, tornando-se história.

____

Parabéns ao que tivemos, que mesmo estando findo, aquece meu coração a cada pensamento. Olho no relógio e vejo que faltam 09 minutos para a chegada do nosso aniversário de um namoro já morto. Ao invés de celebrarmos, devemos velá-lo?
Quando ouvi essa música, vi nossa história. E hoje, na véspera do seu primeiro aniversário de vida, vou te dá-la para que deixamos doer sua morte. Esse é meu presente de um ano muito intenso de namoro:

"O verão chegou trazendo a voz
Da paixão que escorre mel do sol
E incêndeia o nosso coração,
Menino
Brincando na areia.
Que o verão saiba cuidar de nós
Passageiros como a luz do sol
Que incêndeia o nosso coração,
Menino
Brincando na areia.
Madrepérola de cores vãs
No vitral insone das manhãs
Que eu vi passar enquanto o mar
Menino
Brincava na areia.
Que a paixão saiba cuidar de nós
Que você beba do mel do sol
E que a sombra que o verão trará
Possa descansar seu corpo
Menino
Brincando na areia.
O verão chegou trazendo a voz
Da paixão que escorre mel do sol
E incêndeia o nosso coração,
Menino
Brincando na areia."

- Mel do Sol - Oswaldo Montenegro


- Roberta.

29 de nov. de 2010

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24 de nov. de 2010

Pare!

Ela queria gritar "CHEGA!", queria que ele parasse de agredi-la daquele jeito. Aquela sede de tomar até a última gota do seu corpo, depois aquela necessidade de que ela olhasse e por fim toda aquela mágoa, naquele telefonema tosco na madrugada. Ele disse que a aquela menina havia se perdido, "já era" esse foi o termo usado por ele. Ele diz tantas coisas que não percebe que ela continua ali, a situação fez com que eles não se olhassem mais da mesma maneira. Agora ele só agride, como um cão raivoso investe contra qualquer movimento a sua frente. Ele só fala e machuca.
Ela só queria que ele parasse, porque ela já carrega o peso do mundo nas costas e ele sabe disso...
Ela resolveu parar, por ambos.
Tomou um banho deixando toda aquela mágoa dele escorrer de dentro dela, deitou em outra cama, uma que não tivesse vestígios daquela maldita cena e fechou os olhos, permitindo que as lágrimas finalmente corressem pelo rosto e morressem no peito.
Pensou naquele tempo onde o toque dele era sedento, mas carinhoso e lembrou com saudade, passando os dedos nos arranhões que a raiva dele deixou em sua pele, pela última vez...

- Roberta.

20 de nov. de 2010

Hold on!
Hold on!
Don't be scared
You'll never change what's been and gone

May your smile (May your smile)
Shine on (Shine on)
Don't be scared (Don't be scared)
Your destiny may keep you warm

'Cause all of the stars
Are fading away
Just try not to worry
You'll see them some day
Take what you need
And be on your way
And stop crying your heart out

Get up (Get up)
Come on (Come on)
Why you scared? (I'm not scared)
You'll never change what's been and gone

'Cause all of the stars
Are fading away
Just try not to worry
You'll see them some day
Take what you need
And be on your way
And stop crying your heart out

'Cause all of the stars
Are fading away
Just try not to worry
You'll see them some day
Just take what you need
And be on your way
And stop crying your heart out

Where all us stars
We're fading away
Just try not to worry
You'll see us some day
Just take what you need
And be on your way
And stop crying your heart out

-Stop Crying your heart out - Oasis

A estrada de terra, o cheiro de mato, a casa, as camas. Tudo remete a um tempo passado, um tempo valioso e calmo, um esconderijo de memórias congeladas em felicidades...
Talvez esse momento seja oportuno, ou não de retornar aquele lugar, caminhar, ver, sentir e estar, só isso, mas ainda assim, algo, sei lá.
Talvez o que menos se quer nesse momento é essa paz, essa que dá tempo pra pensar... Melhor não pensar. Mas enfim, tem coisas que devem ser feitas, essa é uma delas. Ir e só...

(Bom seria não ir, ou nunca mais voltar... Não sei)


-Roberta

17 de nov. de 2010

Pelo que se foi...

“Olhe bem nos meus olhos, olhe bem pra você...”
Nós não somos mais os mesmos. Nem você, nem meus olhos cansados de chorar. Nem teus olhos âmbar quentes, nem eu e as minhas partes.
“... o fato é que agente perdeu toda aquela magia...”
Quando deixamos de nos ver? Quando você deixou de ver as coisas que eu trazia tão bem escondidas para você no canto mais escuro de mim, aquelas que você pareceu ter encontrado de início, desde o primeiro dia. Quando eu deixei de ver em você aquele porto sempre tão seguro? Quando deixamos de respirar aquele ar empapado de amar e sonhar, que nos fez querer mais, que nos fez ir além de mim, dos meus olhos, da tua segurança. De mim e de você...
“... a porta dos meus quinze anos não tem mais segredos...”
Caímos exatamente naquilo de que tanto fugimos. Caímos no buraco mais temido das certezas certas, dos métodos. Caímos na cobrança...
“... e velha, tão velha ficou nossa fotografia.”
Aqueles sorrisos gratuitos e aquele amor que transbordava do que costumávamos ser. E era tão bom, tão lindo... Que valia sofrimentos e choros desnecessários, que nos fazia querer, sempre, ser só um. Aqueles dois corpos que contrariavam todas as leis da física enquanto ocupavam o mesmo lugar no tempo e no espaço. O nosso tempo, o nosso espaço. Não o espaço que acabou nos separando, não o espaço que existia entre, mas sim aquele que juntos éramos. Espaço sem espaço, sem vazio. Cheios... De mim e de você.
“Olhe bem nos meus olhos, olhe bem pra você...”
Separados quem somos? Apenas eu, sem você... Palavras de dor tentando explicar um fim que devido à intensidade do começo, jamais vai ser o que merecíamos. Jamais vai ter a grandeza, porque assim é ser final, assim é voltar a ser um sozinho. Sem grandes atos, sem grandes explicações. E isso foi o que restou da metade que eu fui: palavras, dores, incertezas e solidão. Às vezes penso que o melhor de mim, morreu com o que éramos, morreu quando ainda juntos, nos fizemos separados...
“A quem é que agente engana, com a nossa loucura...”
Tanto falamos que nos esquecemos de fazer. Fazer aquelas coisas que nós éramos. Falamos em conseguir, de chegar, mas não marcamos um ponto de encontro. Saímos em busca do que queríamos, mas hoje vejo que saímos cada um para um lado, cada um por um caminho, sozinho...
“... o certo que agente perdeu a noção do limite...”
Perdemos o que nos unia, na prática, na vida. Sobrou amor, sobrou vontade, mas faltaram as peças chaves: quem éramos - eu e você. Não eu, nem você, mas nós juntos, em uma só carne, em uma só vontade. Não nos perdemos um do outro, mas nos perdemos de nós mesmos. E aquela coisa toda que tínhamos era para eles, não para nós, dois velhos cansados. O que tínhamos morreu quando mudamos e o amor que estava na gente, gritou por socorro, porque se viu entre dois desconhecidos...
“... e atrás tem alguém que virá, que virá, que virá, que virá, que virá...”
A vida... Ela veio agora, ou ela nos mudou? Fomos quem éramos, ou inventamos personagens perfeitos para um crime de amor?
... E nós mesmos... Quem é você? Me responde, quem sou eu? Porque eu, não sei dizer. Não sei dizer, nem sei ver. Não mais partes de um todo, mas faces opostas de uma mesma moeda. Porém faces opostas com vontades próprias, que saíram da moeda, desgrudaram e viraram moedas com dois lados. Mas o imã, fugiu...

- "Oswaldo Montenegro - Aquela coisa toda"
- Roberta

8 de nov. de 2010

O Passado

Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro

Salas e quartos
Somem sem deixar vestígio
Seu rosto em pedaços
Misturado com o que não sobrou
Do que eu sentia
Eu lembro dos filmes que eu nunca vi
Passando sem parar em algum lugar.


- Tudo que vai - Capital Inicial

O passado é vivo, dentro de quem lembra.
Ela aprendeu que não se deve descobrir o passado, a menos que queira-o dentro do presente...

7 de nov. de 2010

Contestação poética

Quem morre, deixa de viver
E quem não vive, mas continua vivo?
Quem continua respirando, o coração ainda bate, as pernas ainda andam,
Mas a vida lhe escapa em suspiros, por entre as grades de sua janela?
Quem vê o mundo rodar, levar a vida em dias lânguidos, e vê a noite chegar com suas grade fechadas e seus ares de prisão?
Até a noite mais fresca, aquela de primavera, que alivia a pele do sol, trazendo aquela brisa com cheiro de flor e liberdade. Liberdade ilusória, cercada de limitações e palavras de repressão.
Quem sabe a morte, linha de chegada de quem não vive.
Redenção final.
Melhor a morte a quem não vive!
Sentir seu corpo parar, o ar não vir o mundo desvanecer.
Sonhada liberdade, finalmente voltar ao nada, sem mais desejos de tudo, sem mais desejos alheios.
Melhor a morte à quem não vive
E quem sabe falta de ser livre, angustia de quem vive.
Pra mim, espero a redenção.
Fim de quem vive preso, e assim não vive.
Quem sabe a morte, quem sabe...

-Roberta

...

Ninguém sabia que de noite eu deitava sozinha no meu quarto e chorava sem nem saber por que, como se a minha alma implorasse por alívio de um peso que ela carregava sem saber.

E quando olho pra trás eu vejo pedaços de uma vida. Memórias que não seguem uma ordem cronológica, como se tudo fossem lampejos de um pesadelo do qual um dia eu vou acordar. Como se cada passo que eu desse fosse em direção ao esquecimento de tudo pelo que eu já passei...muitas vezes em vão.

5 de nov. de 2010

Finalmente, a vencedora!

Hoje ela percebe que a solidão é marca feita à brasa.
Esta ali, e vai continuar.
E nem o remédio que jurou-se tão milagroso no combate de tal moléstia mantém um resultado eterno.
Ela vence, porque ela chegou primeiro, a solidão. Primeiro até que a vida, primeiro até que toda essa maldita história...

-Roberta.

4 de nov. de 2010

O Vencedor Leva Tudo...

Eu não quero conversar,
Sobre as coisas que nós passamos
Embora isso me machuque,
Agora é passado
Eu joguei todas as minhas cartas,
E foi o que você fez também
Não há mais nada a dizer,
Nenhum ás a mais a jogar

O vencedor leva tudo,
O perdedor fica menor
Ao lado da vitória,
Está o seu destino

Eu estava em seus braços,
Achando que ali era o meu lugar
Eu achava que fazia sentido,
Construindo-me uma cerca
Construindo-me um lar
Achando que seria forte lá
Mas fui uma tola,
Jogando conforme às regras

Os deuses podem jogar um dado,
Suas mentes são tão frias quanto gelo
E alguém bem aqui embaixo,
Perde alguém querido
O vencedor leva tudo,
O perdedor tem que cair
(...)

- The Winner Takes It All - Abba

22 de out. de 2010

Prisão de Mentiras

- Porque você não atendeu o celular?
- Porque eu tava na aula e sempre deixo meu celular no silêncioso, não ouvi. Porque?
- Porque você não estava na aula, sua mentirosa vagabunda. Eu vi aquele menino indo para lá. É sempre assim. De hoje em diante, nas sextas-feiras te quero em casa às 8 e 30! Vou começar a sair!
- Mas é justamente as duas últimas aulas que eu não posso faltar... São as aulas...
- Não me interessa, isso é problema seu. Estou cansada na tua falta de vergonha na cara. Vim pra casa e ficar com a tua filha não dá, mas tempo de ficar se amassando igual a uma vagabunda pelos cantos você tem!
- Está louca? Eu estava na aula!
- Mentirosa. Troca sua filha por qualquer homem, parece aquelas putas de boteco! Merece morrer sozinha e infeliz pra aprender!

[...]

Ela também não entende porque essas palavras que fogem a realidade a machucam tanto...
E ele diz que as coisas vão se ajeitar...
Ela não acredita nem na mãe, nem nele; só acredita naquela idéia...
Os encomodados que se retirem, é isso que dizem. Ela não quer se retirar apenas da casa, bom mesmo seria se retirar da vida... Mas essa idéia é tão antiga que ela deixou de se acreditar capaz. Quem sabe as mesmas mentiras que a prendem, empunharão a faca que vai acabar com toda a dor?
Enquanto isso ela segue, andando de cabeça baixa pela vida, cansada dos óculos escuros que a escondem e da luz que a cega.

- Roberta

21 de out. de 2010

20 de out. de 2010

Receita (1)

Receita - Maçã raspada

Ingredientes:
- Uma maçã
- Uma faca
- Uma colher

Modo de Fazer:
Pegue a maçã, pegue a faca, e corte a maçã ao meio.
Pegue a colher e raspe a maçã.

Esta receita tem muitas variações, você pode encontrar seu próprio modo de raspar a maçã. Também pode ser feita com maçãs verdes ou maçãs podres, dependendo da sua preferência.
Boa sorte!

What we have become

Todos esses anos, em um único dia muda tanta coisa, e se vão e sua vida e a paixão se desfocam.
Se guardando para algo que você nunca verá em seus dias, e desligando de tudo que você precisa.
Olhando através de olhos distorcidos, belo desastre. Adicionando um monte de mentiras, era demais para um final feliz.

Erguendo suas paredes, e tudo o que você queria, junte os pedaços e encaixe-os nos buracos que nós costumávamos esconder.

Se renda ou abandone isso agora, pois agora temos o que nos tornamos. Todas as lágrimas... nós nunca pensamos que veríamos o dia em que as armadilhas de nossas vidas iriam desaparecer.

Indo até a lacuna que você deixou para trás, não é o que você prometeu, não é o que você acreditou.

Buscando a verdade, quando nada realmente importa, persiga a luz que o cega mesmo quando você está se escondendo. Agora temos o que nos tornamos, agora lute para aliviar a dor, você sabe que não é a saída, você sabe que não é a saída.

Erguendo suas paredes, e tudo o que você queria, junte os pedaços e encaixe-os nos buracos que nós costumávamos esconder.

Buscando a verdade, quando nada realmente importa, persiga a luz que o cega mesmo quando você está se escondendo.

Agora nós somos o que nos tornamos.

Gone



Sentir isso só pode ser...
Estou afundando.
Eu estou afundando, me puxe pra cima.

Toda vez que vejo suas roupas jogadas pelo chão, eu pensei que você estaria em casa
Você disse que nunca iria embora.
Toda vez que eu não vejo a luz queimando na varanda, eu pensei que você estaria em casa
Você disse que nunca iria embora.
Mas você se foi.

Me sentindo sobrecarregado, eu mergulho para um lugar certa vez preenchido, mas agora vazio para eu me esconder.
O dia que você partiu foi o dia em que morri,
E esqueci como é ser, e como é se sentir vivo.

Tento alcançar o céu
Quando nada parece dar certo, quando nada parece ser certo pra mim.

Toda vez que vejo suas roupas jogadas pelo chão, eu pensei que você estaria em casa
Você disse que nunca iria embora.
Toda vez que eu não vejo a luz queimando na varanda, eu pensei que você estaria em casa
Você disse que nunca iria embora.
Mas você se foi.

Eu pensei que você estaria em casa,
Você disse que nunca iria embora...

...mas você se foi.

Traduzindo (1)

Tennesse Line - Daughtry

Eu abro meus pulmões
Para respirar perdão e amor
Me assombram agora
Memórias de como eu costumava ser

E durante a estrada
Os problemas com certeza seguirão
Olhando para fora da janela
Sei lá pra onde eu irei
Então eu continuo apenas dirigindo...

Meu caminho pra LA,
Olhando pelo retrovisor
Enquanto as estradas desaparecem
Eu descartei meu passado
Desde a primeira até a última chamada que eu fiz.

E me diga como fazer certo,
Todos os erros me fizeram aprender
Que tudo isto pode acabar essa noite
A linha do Tennesse apenas mudou minha forma de pensar,
Agora é o meu coração que eu vou seguir.

Quem iria saber
Que o orgulho é tão difícil de engolir.
Enquando eu repouso nos ombros
De uma estrada que vai ficando fria,
Com todos meus problemas,

Deveria eu continuar dirigindo...

Eu sei que devo estar fazendo algo de certo,
Viro para o caminho de onde eu comecei
Pergunto-me se eu posso transformar tudo esta noite
E deixar de viver em dúvidas...

Eu descartei meu passado,
Desde a primeira até a última chamada que eu fiz.

Eu descartei meu passado,
Desde a primeira até a última chamada que eu fiz.

- Evelize

Carta às memórias

Aprendemos, desde muito cedo, que somos a soma do que vivemos no passado, o que fazemos no presente e o que desejamos para o futuro, deve ser por isso que me remeto a vocês nesse momento, porque não sei mais quem eu sou.
Tenho ouvido tantas coisas que quanto mais me procuro, mais me perco em mim. Meu processo narcísico se intensifica a cada nova verdade. Quando mais eu corro, mais me volto a mim mesma. E talvez, voltando a vocês eu encontre o momento que me perdi.
Enquanto escrevo, estou no sol, posso senti-lo ardendo na minha blusa preta, e no topo da minha cabeça, sinto ele queimando as teclas do computador, onde coloco os dedos, tentando encontrar as palavras exatas pra que isso fique menos desmedido. As melancólicas músicas que propositalmente escolhi inundam meus ouvidos, junto com os sons dos carros que passam as minhas costas. São tantas coisas, que meus sentidos estão em êxtase, quase confusos. Os cheiros, os sons, as imagens, o tato e os gostos. Tudo tão familiar que chega a incomodar. Tudo tão conhecido que o tédio se anuncia em tudo que de tão certo que nem reconheço. Vejo minha imagem refletida na tela do computador, a mesma de todas as manhãs, mais ainda sim, tão diferente.
As coisas mudam e nos modificam. As coisas deixam as marcas, deixam os cheiros e deles jamais nos livraremos.
Escrevendo isso, tento lembrar, de todos aqueles episódios importantes que me fizeram ser assim.
Me lembro daquela menina que fui um dia. A gordinha tinhosa, mandona e briguenta, aquela que quebrou o dente do seu melhor amigo com uma joelhada.
E aquela que se apaixonou por um menino bobo que usava óculos. Quem amou ele pelo que ele era, e que de repente percebeu que todas as amigas se apaixonaram por ele, talvez pelo jeito que ela passou a contá-lo. Lembro de tê-lo amado por mais da metade da minha vida e também por ter chorado por ele. Lembro que fui sua melhor amiga e que ele beijou a minha melhor amiga. Lembro que nunca beijei-o e que às vezes ainda sonho com ele. Talvez seja ele, meu amor platonico, meu príncipe de cavalo branco, que caminhou para um caminho oposto...
Lembro daquela menina, a gorda que era amiga das estonteante. Lembro que até minha mãe me chamava de gorda e chamava ela de estonteante. Lembro que foi ela quem o príncipe quis. Lembro que chorei por ele, no escuro do quarto dela, enquanto ela, sadicamente, me contava sobre o doce daquele beijo que eu nunca provei.
Lembro que entre choros e amizades encontrei o primeiro homem maravilhoso da minha vida. Lembro o nome dele todos os dias. Talvez, se um dia tiver um filho homem eu dê seu nome a ele. É um lindo nome, e seu dono é um dos caras com a alma mais pura que já passou na minha vida. Foi o primeiro que me viu além de mim mesma. Nessa época eu já escrevia...
Dai eu emagreci e o anjo continuou na minha vida, continuei sendo amiga do príncipe. Lembro que foi aí que me perdi do caminho que minha mãe tinha como certo. Conheci as drogas e as ditas "más companhias". E conheci o poder de sedução, a manipulação e promiscuidade. Lembro que me achava perfeita e feliz. Parei de escrever, me perdi de mim. Muitos homens foram e vieram. Alguns me marcaram eternamente, outros foram tão descartáveis quanto fui pra eles. Achava que que era assim que queria passar o resto da vida...
Mas me lembro daquele dia fatídico. Lembro não lembrar nada e lembro que jurei que tentaria esquecer pra sempre. Lembro o cheiro, o lugar e o rosto. O rosto não tem como esquecer, ele me persegue em pesadelos, com o mesmo sorriso cruel, as mesmas palavras despresíveis e o mesmo movimento. Não consigo não chorar quando lembro, não consigo não ter medo daquele homem: o mais nojento, mas o que tenho certeza que jamais vou esquecer.
Lembro das consequências daquela noite maldita:
Dor, física e psíquica.
Vergonha.
Medo.
Lembro que foi a partir dai que quis morrer e procurei por isso...
Depois veio aquele cara, aquele que eu achei que era pra sempre. Aquele com quem me imaginei casada, aquele por quem mudei. Ele me salvou da beira do abismo. Por ele eu quis viver, por ele fui feliz, com ele descobri que o mundo ainda tinha cores. Descobri o prazer. Juntos fizemos um tesouro, nossa explosão de amor foi quase um Big Bang, e dele originou o sol das nossas vidas, nossa princesinha. Lembro dele naquele dia na maternidade e no medo que vi no fundo daqueles olhos de menino vestido de pai. Das brigas, lembro algumas, mas as felicidades são impossíveis de esquecer... Foi uma vida, linda e feliz. Quando me lembro dele sempre aquece meu coração, sempre tenho vontade de chorar, sempre penso como foi maravilhoso poder ter compartilhado todas aquelas coisas com ele e agradeço por ter sido ele e não qualquer outro. O meu Nego e a nossa história... Pra sempre nossa e linda, ainda que separados, juntos. Quando ela nasceu, nos uniu pra sempre e agradeço, porque não ia querer perder ele por nada no mundo...
E depois meu doce vampiro... Quem me tirou o ar e o chão. Quem procurou me encontrar. Aquele que me abraçou e disse que o mundo ia ficar bem. Eu quis tanto ele, que ele me quis também. E a nossa história que ainda continua...
São tantas coisas, tantas vidas, tantas mulheres que nem sei... Talvez por isso eu não me reconheça enquanto alguém, sou alguéns e tive alguéns na minha vida. Tive bons, ruins e os que são impossíveis de categorizar. Conheci mundos e vi coisas...
Virei esse complexo de pessoas, ou como diria Raul "essa metamorfose ambulante", que ainda que saiba ser impossível achar, vai eternamente procurar por um Eu, uma Roberta, um mosaico de amores, por homens e mulheres; de drogas e músicas; de amigos e inimigos; de paixões reais e impossíveis; príncipes, anjos, monstros e dragões.
Em lindos dias de sol ou horríveis noites de tempestade...
E vocês, memórias, são isso, as peças que me fazem ser eu, boas e ruins...
É bom poder voltar a vocês e me encontrar em cada fragmento de mim mesma. Até a próxima necessidade...

-Roberta.

19 de out. de 2010

Uma frase, mas não de um bolero

"E foi o princípio do fim..."

(...)

Sem mais nada, só isso.
-Roberta

17 de out. de 2010

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...


A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!...

Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...

Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...

Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...


- Elis Regina - O Bebado e a Equilibrista

"Eu não vivi, eu colecionei memórias (roubadas)"

ELa fecha os olhos e quer fugir. Bom seria... Sair e não voltar mais. Sair e deixar todas essas coisas para trás. Ah! Doce ilusão.
Ela pensa nas coisas que passaram sem serem vividas, as coisas que acabaram sem nem ter começado. Nas coisas que ela deixou, mesmo sem querer.
Pensa naquela liberdade que sempre foi sonho e que hoje é, mais do que nunca, condenada ao utópico, sem nem chance se ter sido real.
Pensa naqueles sonhos guardados nos velhos baús de fotografias, esquecidos sob a poeira do tempo. Aquilo que ela nunca teve, mas sempre quis saber que gosto tinha.
Pensa nas vidas diversas que a rodeiam, nas experiências que o mais próximo que ela vai chegar é ouvir outras pessoas contando...
Coisas que ficaram para trás, sem possibilidades de voltar. Jamais perdemos o que nunca tivemos...
Pensa que não queria que certa coisas fossem, mas nem sempre as coisas são como queremos.
O tempo passa,
As coisas passam.
E ela fica, espreitando sonhos alheios...

- Roberta.


"Eu quero a sina de um artista de cinema
Eu quero a cena onde eu possa brilhar
Um brilho intenso, um desejo, eu quero um beijo
Um beijo imenso, onde eu possa me afogar
Eu quero ser o matador das cinco estrelas
Eu quero ser o Bruce Lee do Maranhão
A Patativa do Norte, eu quero a sorte
Eu quero a sorte de um chofer de caminhão
Pra me danar por essa estrada, mundo afora, ir embora
Sem sair do meu lugar
Pra me danar, por essa estrada, mundo afora, ir embora
(...)"
- Los Hermanos - Lisbela

14 de out. de 2010

Histórias de amor proibido ficam mais bonitas em livros...

Na realidade, a fantasia não tem espaço.
As princesas nem sempre são donzelas,
Os príncipes nem sempre são os heróis para todos,
E os dragões nem sempre perdem as batalhas...

-Roberta

6 de out. de 2010

A Bailarina

Um dia ela ouviu uma frase que dizia assim: "Quando vemos uma bailarina dançando, vemos a beleza, a leveza e a precisão dos movimentos. A bailarina é delicada e de fato, parece ser simples os movimentos executados, mas esquecemos que por trás de toda a beleza existe muita técnica, muito esforço e muito treino..."
De fato, isso a fez lembrar das coisas em sua vida e na maneira que as pessoas à vêm. As pessoas enxergam a patricinha, a filhinha do papai, e a imaginam enquanto sendo apenas isso, uma patricinha alienada. Ninguém nunca percebe toda a técnica estudada por detrás de um discurso filosófico, o esforço por detrás de um trabalho científico ou o treino por trás de uma postura madura e responsável.
Mas isso não faz com que a bailarina pare de dançar, pois um dia, alguém que efectivamente entenda dessa arte enxergara além de todos os outros.
Enquanto isso, a bailarina dança e ela segue.
O show deve continuar e a vida também...
Dance Bailarina, dance.

-Roberta.

Para a bailarina que me ensinou a técnica, pode ser sobre mim ou ainda sobre você...

5 de out. de 2010

O livro

Um dia ela descobriu que era tradicional.
Que queria crescer, casar, ter filhos. Escrever um livro e plantar uma árvore.
Ela queria um vestido branco, uma carreira bem sucedida e uma família feliz!
Queria ir almoçar em casa e conversar sobre a conta da luz.
Queria acordar no domingo e fazer café da manhã para marido e filhos.
Ela gosta da família, dos almoços e das conversas.
Ela tinha a filha e o começo de uma família.
A normalidade dominava tudo nela.
E ela era tradicionalmente feliz.
Um dia ela conheceu ele.
O avesso dela, o lado oposto da sua moeda.
Ele queria uma bela carreira, nada de compromisso e várias mulheres.
"Garrafas cheias e mulheres vazias", era isso que ele dizia...
Ele queria sexo hoje e não ligar amanhã.
Ele não queria compromisso.
Queria festas, mulheres, carros, dinheiro.
Ela quis ele.
Ela que era compromisso, quis ele que era liberdade.
Ele passou a querê-la também.
A liberdade quis prender-se ao compromisso.
Poderia um gato de rua, criado livre, apaixonar-se por uma gata doméstica, criada entre quatro paredes?
Poderia a liberdade querer prender-se aos compromissos?
Poderia um pássaro, de dentro de sua gaiola, apaixonar-se pelo beija-flor que livre voa?
Poderiam os compromissos quererem prender a liberdade?
Poderiam duas coisas tão distantes e tão distintas conviverem em uníssono?

-Roberta.

1 de out. de 2010

Ódio

E uma raiva sem fim, nem explicação. Algo que move, que faz querer morrer e querer matar. Mas ela fecha os olhos e respira, afinal de contas falta apenas um ano...
Ela só espera resistir até lá! (Ela odeia ter que agarrar-se a isso, mas infelizmente é o que resta para manter sua sanidade).

- Roberta.

30 de set. de 2010

Confusão

Algo irrompeu dentro dela, com uma dor assombrosa. E, como sempre, as coisas mudaram.
A dor é um presságio do corpo, enquanto a loucura o presságio da alma. A dor dilacerou-a, como algo que procura uma saída urgente, que rasga, que quer viver, mas precisa matar para isso. E a loucura começou a bater a porta dos sentidos, inebriando os sentimentos e desvanecendo a verdade certa. As coisas perderam o sentido em um misto de loucura doida e dor insana.
E assim o mundo perdeu as cores, ele abriu espaço para os velhos demônios entrarem, e eles voltaram, saudosos de destruição.
E no meio do turbilhão ela se pergunta: Estamos presos a uma Compulsão à Repetição?
Cada vez que possível, as coisas serão assim?
Ela sente a frieza tomar conta das suas palavras, enquanto a ternura ferida espreita assustada tamanha falta de sensibilidade. Ela não é assim, mas a loucura a transforma. E a dúvida é quem permite a loucura fazer-se presente.
E enquanto tudo é confuso, a loucura impera absoluta. Enquanto a dor, soldado fiel, conter o resto, ela é soberana.
Ela só queria saber, tirar a loucura do poder e trazer a ternura as palavras.
Mas, isso são conversas para outros dias...
Até quando?
Ele não entende, nem vai entender.
Porque nem sempre as coisas são tal qual elas mostram-se...

- Roberta.

Não faz sentido para quem lê, mas não me importo, porque para quem sente o sentido foi perdido há muito tempo...

26 de set. de 2010

O amor...

Ela disse:
"O amor é igual a pedir pizza em casa. Você pede com muita vontade, fica muito ansioso até chegar. Quando chega, você come, come, come, come e depois a pizza acaba. E como você está em casa, o que sobra é sentar na frente da TV com a barriga muito cheia depois de ter arrumado a cozinha..."

Ele respondeu:
"Eu acho que o amor é mais parecido com McDonald's. Porque assim, sempre que eu vou no McDonald's eu peço pra tirar alguma coisa do meu número 1, o Pickles. Então, mesmo que todo mundo diga que faz mal, que mata, que é uma ferramenta do capitalismo, eu não consigo de deixar de comer lá. É tipo, uma obsessão sabe... E assim, o amor é igual, ainda que o amor seja uma coisa que faz mal, que seja padronizado, que seja sempre igual que nem McDonald's, você pode fazer diferente. Pode ser sempre igual, ou pode ser diferente toda vez..."

(...)

Ele diz:
"Eu vou ter que me acostumar com meninas menos complicadas, menos interessantes, menos criativas..."

E ela diz:
"Você gostaria de mim se eu fosse menos complicada?"

(...)

-Um filme nacional que estava passando na TV...

23 de set. de 2010

Um dia vestido
De saudade viva
Faz ressuscitar
Casas mal vividas
Camas repartidas
Faz se revelar
Quando a gente tenta
De toda maneira
Dele se guardar
Sentimento ilhado
Morto, amordaçado
Volta a incomodar

- Fagner - Revelação

(...)

Afinal, o que é certo para você?
Eu não entendo.

(...)

22 de set. de 2010

Querer

Ela conheceu ele, e quis tantas coisas que nem soube dizer...
No início ambos queriam apenas o prazer e, em seguida a companhia.
No início eles se pareciam, falavam a mesma língua e queriam a mesma coisa, nada.
Depois ele se foi...
E ela se deu conta que queria mais.
Se deu conta que queria as mãos, a boca e o cheiro. Queria a pele, a voz e a presença. Queria cada toque, cada momento, cada dia.
Ela queria ele e queria que ele à quisesse.
Ele voltou e disse que também queria.
Que também tinha sentido saudade.
E assim se quiseram juntos.
Quiseram ser aceitos;
Quiseram ficar juntos;
Quiseram dividir sentimentos;
Quiseram compartilhar seus mundos diversos e suas experiências distantes.
Quiseram querer as mesmas coisas sempre.
De fato, a intensidade dos quereres era tão grande que o tempo pareceu eterno, que o nada virou o tudo e que querer era poder, era estar, era ser.
Eles se queriam e isso pareceu ser o suficiente.
Não sabiam que ainda que quisessem, existem coisas que o querer não aplaca...
Quando descobriu isso, mesmo sem querer, ela escreveu:
"O querer é o que move e a necessidade é o que mantém vivo para poder ser movido".
Eis que as coisas mudaram:
Querer e precisar, duas faces de uma mesma moeda.
Dois extremos em um continuo.
O que ela queria a sufocava
E o que ela precisava a matava.
Ele passou a querer definições,
E ela passou a não saber como se definir.
Ele passou a querer coisas exatas,
E ela a não entender de certezas.
Ele passou a querer coisas certas,
E ela, perdeu-se em seu querer e precisar de tal forma, que o certo passou a não fazer mais sentido.
Ela apenas queria sentir,
Enquanto ele, gostaria apenas que ela pensasse...

- Roberta.

"Eu quis querer o que o vento não leva, pra que o vento só levasse o que eu não quero.
Eu quis amar o que o tempo não muda, pra que quem eu amo não mudasse nunca.
Eu quis prever o futuro, concertar o passado
Ponderado, perfeitamente equilibrado..."

- Paralamas do Sucesso

17 de set. de 2010

É..

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

-Vinícius de Moraes - Soneto de Separação

Pra sempre ou só por um momento,
Me dá um beijo na boca
E depois me leva pra sua casa

-Armandinho - Outra noite que se vai

13 de set. de 2010

.

Me livro dessa solidão cantando versos feito de você
Me laço no meu coração buscando forças para me conter
Faz tempo que não vivo mais na terra onde te conheci
Cavalgo na vontade louca de voltar pra casa
E sair na rua pra encontrar você
Em terra estranha parei para tomar meu chimarrão
Arriei sela e pensei - Ai, que saudade do meu chão!
Saudade é uma faca afiada que corta nossos corações
E faz da vida quase nada
E nos confunde na poeira dessa estrada.

-Nossos Corações - Expresso Rural

12 de set. de 2010

"Pensamentos soltos, traduzidos em palavras para que você possa entender..."

Estranho é quando a vida perde o sentido, quando os dias não tem mais objetivo. Quando amanhecer e anoitecer provocam a mesma sensação: cansaço.
Quando se sai do trabalho com tempo e sem rumo.
Quando se precisa estar sozinha, mas a solidão é insuportável.
É se olhar no espelho e reconhecer apenas a tristeza.
É abrir mão de coisas importantes, querer morrer por isso, mas ainda sim ir até o fim.
É não se sentir bem em lugar nenhum, em nenhuma companhia, em hora nenhuma do dia.
Estranho é acordar de manhã e não ter nem Bom Dia, nem dormiu bem...
É quando normal é sentir dor.
É sonhar todas as noites com despedidas.
É se perder de tal forma, que nada mais te faz sentir-se você mesma.
É não se reconhecer no espelho.
É precisar se esforçar pra fazer as coisas que sempre deram prazer.
É não querer nem chocolate.
Estranho é perder o poder de não chorar.
Estranho é perder o assunto com quem mais se quer conversar.
É não saber o que dizer, ainda que o coração grite no peito.
Estranho é querer ver e não poder.
Estranho é ficar dias sem ouvir a voz, sem sentir o cheiro, sem tocar a pele, mas ainda sim quando se fecha os olhos, está tudo ali, mais estranho ainda é saber que não é real...
É conversar de maneira formal com a pessoa que te conhece melhor que você, com quem a intimidade vai além do sexo.
Estranho é se dar conta de como as madrugadas são compridas, quando se tem sono, mas não se consegue dormir.
É sentir fome, mas não ter vontade de comer.
É buscar o que você não sabe.
É perder o que é mais conhecido.
Estranho mesmo é sempre ter se sentido vazia, mas ter a impressão de que nem mesmo o vazio sobrou de familiar...

-Roberta.
Lages, 12 de setembro de 2010.

Meu doce vampiro,

A dor que te provoquei me dói também, e me dói também a culpa de não ter podido ser sempre aquela certeza que conheceu em mim, que como você me diz, alimentou o que hoje, você procura esquecer. Isso dói também, saber que me quer morta, se não literalmente, pelo menos dentro de ti.
Hoje resolvemos nos deixar quietos, decidimos não mais nos falar e isso passou o dia todo comendo minha'lma como cupim em madeira já velha. Me dói não saber de ti, por onde andas, o que estás fazendo... Me dói não mais fazer parte da tua vida.
Você deve pensar que estou louca ao escrever essas linhas, já que o que nos separa é a minha incerteza, mas ainda que incerto, ainda tenho amor no peito e ele é seu. Sinto isso durante todo o meu dia enquanto penso que não mais vou te ver antes de ir para aula, quando chego em casa e ainda que ali estejas, com frases de impacto, ainda que eu fale você não vai responder. Teu silêncio me machuca... Mas escolhi pela solidão e ela é feita de silêncios, não sei se saio viva dela, pelo menos não essa Roberta.
Falando nessa Roberta, enquanto nos falamos percebo que ninguém nunca chegou tão perto de me conhecer como você. Quando falas, é certeiro. Atira onde em mim sabe que vai machucar. Não pensei que farias isso, mas como te magoei muito, tens todo direito de maltratar meu coração, se assim o teu doer menos. Ainda que pareça clichê, se pudesse pegaria toda a dor de minha escolha para mim, porque te quero feliz.
Hoje fiz uma coisa que não fazia há anos, roubei o carro e fui passar onde você estava pra ver se te via... Voltei para casa decepcionada, porque lá não te encontrei.
Enfim, já escrevi a despedida derradeira, já te expliquei meus motivos, não é para isso que serve esta carta. Com isso espero apenas que, talvez todas essas mazelas, misturadas em um cafona português polido pareçam mais sensatas. Não espero respostas, porque a partir de hoje, não mais responde quando te falo, apenas fica em silêncio e me machuca.
Li uma vez em um livro uma frase que, hoje, mais do que nunca faz sentido sem restrições: "Mas as coisas nunca são como devem ser, Maria Angelica, a vida constrói-se dos retalhos dos nossos sonhos..."
Amo te, não vou dizer que não. Mas às vezes penso, se amar é mesmo o suficiente...
Beijos, de adeus ou até logo, mas cobertos de amor e saudades...

Roberta.


Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo...
Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro...
Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir...
Não queria te ver assim
Quero a tua força
Como era antes
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada...
Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto...
Até chegar o dia
Em que tentamos ter demais
Vendendo fácil
O que não tinha preço...
Eu sei é tudo sem sentido
Quero ter alguém
Com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim...
Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei...
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também...

-Legião Urbana - Andrea Doria

3 de set. de 2010

Pelas coisas que passaram...

Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito tempo
Em sua vida
Eu vou viver...
Detalhes tão pequenos
De nós dois
São coisas muito grandes
Prá esquecer
E a toda hora vão
Estar presentes
Você vai ver...
Se um outro cabeludo
Aparecer na sua rua
E isto lhe trouxer
Saudades minhas
A culpa é sua...
O ronco barulhento
Do seu carro
A velha calça desbotada
Ou coisa assim
Imediatamente você vai
Lembrar de mim...
Eu sei que um outro
Deve estar falando
Ao seu ouvido
Palavras de amor
Como eu falei
Mas eu duvido!
Duvido que ele tenha
Tanto amor
E até os erros
Do meu português ruim
E nessa hora você vai
Lembrar de mim...
A noite envolvida
No silêncio do seu quarto
Antes de dormir você procura
O meu retrato
Mas da moldura não sou eu
Quem lhe sorri
Mas você vê o meu sorriso
Mesmo assim
E tudo isso vai fazer você
Lembrar de mim...
Se alguém tocar
Seu corpo como eu
Não diga nada
Não vá dizer
Meu nome sem querer
À pessoa errada...
Pensando ter amor
Nesse momento
Desesperada você
Tenta até o fim
E até nesse momento você vai
Lembrar de mim...
Eu sei que esses detalhes
Vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma
Todo amor em quase nada
Mas "quase"
Também é mais um detalhe
Um grande amor
Não vai morrer assim
Por isso
De vez em quando você vai
Vai lembrar de mim...
Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito
Muito tempo em sua vida
Eu vou viver
Não, não adianta nem tentar
Me esquecer...


-Roberto Carlos - Detalhes

2 de set. de 2010

Dúvida

A dúvida é a pior companhia,
instalada onde antes era quente, de amor e presença.
Espanta o sono, esmaga o peito.
Inicia anunciando maus presságios e termina matando tudo...
Maldita companheira.
Porque em mim?
Te queria longe, e as coisas boas perto.
Mas tenho os avessos, você colada,
E as boas coisas caminhando para o horizonte,
buscando se perder, de mim, no tempo...

-Roberta.

29 de ago. de 2010

.

"Nós temos vivido juntos por um bom tempo,
E eu ainda não entendo a Nana completamente.
Você... me perdoaria por te machucar assim?
(...)"

-Nana; episódio 23.

22 de ago. de 2010

Menos mais um

Acorda, faz mamá, liga a TV, chama para o banho, chama para o banho outra vez, coloca no banho, lava, seca, arruma. Entra no banho, lava, seca, arruma. Almoça, escova os dentes, chama pra escovar os dentes, chama outra vez para escovar os dentes, sai correndo, deixa na escola, chega atrasada no trabalho. Ufa! Saí do piloto automático e sente o peito apertado de cansaço. O dia mal começou, melhor que estivesse terminando.
Sai da aula, corre pra casa, chega em casa, responde perguntas, chama pra escovar os dentes, chama pra escovar os dentes outra vez, escuta as ameaças e os xingamentos, escova os dentes, lava, seca, arruma. Põe na cama, faz mamá, liga a TV, senta do lado, espera dormir, coloca na cama. E terminou... Mais um dia, finalmente. Olha no relógio: são 00:29, sabe que agora começa seu dia, os momentos que tem pra si mesma, os momentos que respira fundo e consegue sentir. Os momentos em que escreve pra desabafar, respira pra acalmar e chora pra viver.
Um dia a menos na contagem regressiva. E ela espera, não sabia esperar, mas a maternidade lhe trouxe esse dom, fingir ter paciência, mesmo que o corpo trema e o coração esteja explodindo, ainda que a vontade seja matar ou morrer. Paciência de ver o sol trazer mais um dia e fazer tudo outra vez, do mesmo jeito. Não se esforça pra ser melhor, não tem forças, concentra seu esforço apenas em repetir, tudo igual, sem vida, nem cor, só fazer. Obrigações cumpridas são obrigações cobradas de uma maneira menos agressiva. Precisa se concentrar em não responder aos olhares reprovadores, em não fugir, em não desmoronar. Precisa se esforçar em se manter afastada para manter a sanidade mental.
Está no fim, e por mais assustador que isso possa soar, é mais agradável que a repetição que esmaga, que faz o coração querer rasgar o peito e a deixa sem ar... Ansiedade ao desconhecido? Um pouco talvez, mas muito mais saco cheio do tão, tão, tão, tão, tão repetido...

-Roberta

*Faltam 489 dias para a vida começar.

21 de ago. de 2010

Ela fecha os olhos e espera o sono, ele tem fugido nos últimos tempos, como se ali não fosse mais o lugar. Nela, agora, imperam os pensamentos que não param...
O que você quer? Onde você vai? Onde vai parar? Porque você pensa que quer isso?
Os pensamentos espantam o sono. O sono é egoísta, só fica onde reina supremo, e nela, o espaço vazio foi preenchido pelas dúvidas: Ela não sabe o que quer, ela não sabe se é capaz de chegar onde, no fundo, ela sabe que quer ir; ela não sabe se tem coragem pra ir tão longe.
Disseram pra ela: "Você vai chegar, você é maior que tudo isso, não se limite, amplie..."
A cabeça concorda, mas o coração aperta.
É isso que acontece dentro dela, uma guerra. Lados opostos de uma mesma moeda. Extremos de um mesmo continuo. A cabeça, que manda ir, que manda para, que manda deixar. E o coração que dói quando pensar ficar sem, que diz que sim, que diz não querer, que diz que vai! E agora, pra que lado é o certo? Ela fecha os olhos e a música toca: "Viver entre um sonho e a merda da sobrevivência..." Ela queria saber, de verdade, de coração.
Ela olha o relógio, mas sabe que não vai dormir. Sabe que vai deitar, e tudo aquilo que ela afastou durante todo o dia, vai estar lá esperando... Como se fosse um tropa de soldados inimigos, de tocaia... Ela vai deitar a cabeça e fechar os olhos, e vai sentir os pensamentos tomando conta do que antes estava sereno, um a um, de maneira sádica, doendo aos poucos. Ela hoje sente a dúvida como o frio: que começa aonde está descoberto, mas que após um tempo, invade a roupa, ultrapassa a pele e se aloja próximo ao osso, onde nada alcança pra poder tirar. Dói sem remédio.
Ela tenta esquecer e deixar as coisas como eram antes... Mas os pensamentos estão ali, quando ele sai, eles estão ali, esperando pacientemente pra ocupar seu lugar.
Ela deita e espera, espera, espera, o sono vem aos poucos, e ela dorme. De repente, ela sente-se despertar por algo que pula como se quisesse fugir, como se fosse explodir. O ar não entra mais... Ela senta na cama e tenta respirar...
Ela queria entender o que isso quer dizer, mas não consegue...

-Roberta

18 de ago. de 2010

Tem uma coisa estranha que ronda. Uma estranheza atípica de todos os sentimentos que se mostram aflorados, como se as coisas que acontecem passassem como vento, tirando a fina proteção que a poeira do tempo havia criado sobre as feridas cicatrizadas de maneira falsa, como se os sonhos tivessem se desvanecido em uma sombria manhã de julho.
Sinto-me como uma folha em início de outono, que dorme presa a sua árvore, e acorda em lugar totalmente desconhecido, com uma cor diferente e um futuro incerto e definitivo. Perdi alguma coisa dentro de mim mesma.
Uma vez, dizia que guiava minha vida pelas estrelas, depois cresci e percebi que é preciso sonhar, mas é preciso ter objetivos. Cresci, tive uma filha e entrei na faculdade e assim passei a guiar minha vida por metas. Hoje, quando estou mais perto do que nunca do meu sonho, sinto que as estrelas caíram do céu e minhas metas são impossíveis e com isso, passei a guiar minha vida pelo medo. Tenho medo do futuro. Tenho medo de dormir e acordar com o mundo totalmente diferente, tenho medo de não chegar nem na metade do caminho que tracei pra mim, tenho medo de sair na rua e do que vou encontrar na próxima esquina. Tenho medo de não encontrar o que procuro. Tenho medo de acordar e tenho medo de dormir.
Cresci ouvindo dizer que crescer dói. Sempre imaginei que essa dor era algo físico, do corpo que estica e aumenta. Hoje, descobri que a dor de crescer vem de não caber mais no colo, nem embaixo da cama, muito menos no armário. Vem de não poder se esconder do mundo, nem das responsabilidades. Vem das responsabilidades que o tempo traz. Crescer dói.
Ter medo também dói, porque nos mostra nossa incapacidade frente as coisas, nossa falhas.
Gostaria de voltar atrás, mas ainda que fosse possível, o caminho seria longo demais e isso, também me dá medo...

-Roberta.

11 de ago. de 2010

Sem nome.

Ela respira fundo, e mais uma vez, as coisas passam sem que sejam entendidas!
Todos os dias, é como se a hora fizesse com que as coisas se repetissem, noite após noite: o que começa de brincadeira, termina em angústia; é como brincadeira de criança, começa bem e termina mau.
Ela não sabe de onde vem tamanha estranheza, se dele ou dela, ou se esta já se instalou entre ambos, como um precipício.
Todos os dias, quando tudo recomeça - como uma maldição, ela fecha os olhos e procura aquela sintonia que uma vez envolveu os corpos, alinhou os olhares e singularizou as palavras. Onde foi parar? Ela queria saber... Ela queria de volta! Mas quando fecha os olhos o medo vem. Uma vez, quando fechava os olhos, podia sentir ele pensando nela e isso a deixava segura. Hoje, quando fecha os olhos encontra o vazio. Quando fecha os olhos, encontra o precipício, que por estar entre ambos, quando mais ela se aproxima dele, mais na beira ela chega.
Ela queria saber como ele sente, se ele percebe, se isso é dele, ou dela. Ela queria as respostas dele, mas no lugar tem apenas o silêncio, e um "boa noite" sem te amo... Tem uma falsa formalidade, quando no lugar do tradicional "te quero" vem um "tenha uma boa noite"; tem uma distância quilométrica onde antes não havia espaço, onde antes estavam os corpos tão próximos que eram quase um.
Os olhos não olham mais na mesma direção, as bocas não encontram-se mais com fome, as corpos não ocupam mais o mesmo lugar no espaço e no tempo. As coisas não são mais as mesmas.
Onde isso começou? Ou o que terminou, que deu lugar a isso? Ninguém sabe, ou ninguém fala, mas ela sente e isso dilacera a alma e faz o coração parar de bater, faz a respiração faltar, faz do mundo um lugar nada bom.
Todas as noites a mesma coisa:
Ele diz, ela responde; Ele sai, ela toma banho e deita; As lágrimas chegam, molham o travesseiro; os dedos procuram o calor daqueles braços, mas lá só tem dor e solidão e a lembrança de um calor de segurança e a frieza da ausência de tudo que realmente importa...

-Roberta

10 de ago. de 2010

De mim mesma

Se quiser saber de mim lê o que escrevo, é lá que vais me achar da maneira mais sincera. Quando escrevo faço-o para tentar organizar o que dentro de mim é bagunça; Essa sou eu, Roberta.
Desde quando me lembro tenho como companhia minha ansiedade. Em alguns momentos em picos que me deixam sem ar e me fazer tremer por dentro, em outros momentos, apenas como uma vaca, ruminando aquela sensação que localiza-se entre o peito e o umbigo, que não sobe nem desce.
Não sou bonita nem feia, mas ainda recebo assovios quando passo em construções.
Dizem que minha bunda é grande, mas meus sonhos, são maiores ainda.
Sou uma sonhadora inveterada, acredito nas pessoas e na necessidade de ser alguém melhor, ainda que de maneiras tortas. Chamam-me de utópica, não consigo ser de outra forma, me guio por meus sonhos, e coloco-os no céu. (Deve ser por isso que chamam-me de nariz empinado...).
Não gosto quando não gostam de mim, principalmente porque as pessoas não gostam de mim por motivos errados. Tenho tantas coisas detestáveis, aproveitem-se delas:
Sou ciumenta, paranóica e possessiva. Sou insegura, desorganizada e estou sempre atrasada. Me irritar é difícil, mas se você conseguir vai transformar um dia de sol em uma tempestade de verão: é bravo, furioso, negro e passa rápido! Não me ofendo com facilidade, mas esqueço em questão de minutos. Em compensação, minha memória é muito boa - nunca esqueço um rosto, nem a matéria da prova. Não tenho muita paciência e as vezes, tenho paciência demais. Sou sincera - mas minto como ninguém. Tenho cara de nojenta, fútil e filhinha do papai, o último, sou mesmo!
Mas, por incrível que pareça, também tenho coisas boas: faço amigos até atravessando a rua, falo por 15 pessoas e acho graça de qualquer piada (por pior que ela seja). Como de tudo, em qualquer lugar e até sem companhia. Se falo por 15 pessoas, falo palavrões por 35 pessoas daquelas boca-suja pra CARALHO! Me adapto fácil (principalmente regada a uísque). Sou desastrada e considero isso um charme (percebe minha ironia?).
Quando era criança, diziam que eu não era normal. Na adolescência, as mães das outras meninas diziam que eu "não prestava" e hoje, prefiro não comentar o que dizem de mim. Mas nunca fui presa (pelo menos não em uma cela).
Sou melancólica, ainda que sempre procure ver o lado bom das coisas.
Choro com facilidade, tanto por estar feliz, como por estar triste.
Já tive "tendências" suicidas, mas nunca tive coragem de ir a fundo. Hoje, tenho apenas dias cinzas, mas costumo me agarrar ao fato de que o sol sempre volta a brilhar.
Costumo me esconder atrás de um muro. Enquanto isso, vou ser o que esperarem de mim... Freud explica!
Minha cabeça funciona muito rápido, por isso falo sozinha e rio sozinha (não vale a pena perguntar porque, normalmente é uma coisa: putaria!).
Não sei desenhar, não canto, não toco instrumentos, não tenho nenhum talento especial no esporte, resumindo, não tenho dons e esse é meu maior dom: sobreviver sem dom nenhum!
Me acho irritantemente normal.
Há pessoas que me comparem a Vani (da série Os Normais), também vejo semelhanças na nossa normalidade, mas elas passam longe da silhueta!
Essa sou eu: sem contornos e sem forma definida, só eu, sem meias palavras...

-Roberta.

Ao ciúme

Você chega de arroubo, e leva a minha paz.
Depois que tudo começa, o sono vai pra outras paragens, o amor se encolhe em um canto, a paz quase some e a insegurança toma conta, tomando tudo de gosto amargo, fazendo do meu mundo um lugar escuro.
As mínimas coisas te provocam e quando, solta-se de sua prisão, aperta o peito e esmaga a alma, sufocando até os sentidos, espalhando-se pelo corpo.
Só vens, e não avisa.
Vem com força e com cor, vermelho vivo.
Vem com raiva e com dor.
Tuas passagens, acabam com o que há de mais cômodo e segura,
Transformando em força o que de mais cansado já era sem fôlego.
Porque comigo?
Eu tento fugir, mas você está dentro de mim.
Maldito sentimento...

-Roberta.

6 de ago. de 2010

Compulsão à repetição

De repente, tudo é escuro e sozinho. Se não fosse pelas vozes, que falam e riem, conversam sem se dar do conta do que acontece, ela pensaria não haver outras pessoas a sua volta, mas há. Há e ela sabe que ele está, pode senti-lo.
Ela caminha, caminha e caminha, tentando se aproximar daquelas vozes felizes, afinal de contas, ela também quer ser feliz. Ela caminha e não chega. O escuro que transbordou de sua alma cobre tudo como um manto, impedindo que se veja a felicidade, , é possível apenas ouvi-la das bocas alheias. Enquanto procura, começa a se desesperar, pois sabe estar perto dele, mas não vê-lo sempre a deixa sem ar. Ela continua a procurar e acaba esbarrando em algo. Sabe o que é, ou melhor, quem é! Esse cheiro, hoje, é inconfundivel. É cheiro de segurança, de amor, de paraíso e de saudade. É cheiro que envolve e que faz lembrar os melhores momentos. É o cheiro dele, aquele cheiro que emana da pele morena a cada movimento. Ela esbarra, nela as coisas se alvoroçam. Sente-se viva, mas nele nada acontece. Encosta-se nele, colando o ouvido nas costas largas e sente a vibração da voz e o arfar da respiração e abraçada a ele percebe que este não sabe que ela está ali. É nesse momento que a angústia começa; ele não sabe. Ela grita, mas ele continua rindo, ela chama e implora, mas ele não interrompe a conversa. Ela gruda-se a ela, aperta, sacode e nada. Nem mesmo as lágrimas grossas que encharcam-lhe a blusa, ele parece sentir. Um arrepio de dor percorre o corpo dela, será que ele a esqueceu? Ou será que pra ele, ela nunca existiu? Ela não sabe o que fazer, apenas fica, agarrada a ele, gritando e chorando, chamando-o, mas ele nada. Ele fala de uma menina boba, que muitas vezes chorou no seu ombro, que outras vezes riu até ficar sem ar na sua cama, que muitas vezes tentou ser sensual para agradá-lo. E entre risadas sinceras, conta as coisas que essa menina fez, e como, quanto mais importante tentou ser, mas insignificante se tornou. "Coitada, ela acreditou no amor" ele diz e ri. Nesse momento, ela sente como se milhares de facas lhe atravessassem o corpo. Nunca sentiu nada tão doido. Ao fundo, ouve alguém chamando-a: "Amor, amor". É aquela voz, aquela voz de veludo que sussurra no seu ouvido. Ela acorda e em um misto de dor e alivio, olha dentro dos olhos cor de âmbar e tenta ver se ali alguma coisa mudou. Ela respira fundo e tenta conter as lágrimas. Encontra seu lugar entre aqueles braços e ouve ele dizer, próximo a seu ouvido: "Pesadelo de novo amor? Passou...". Ela sabe que passou. Pelo menos dessa vez.
Mas ela sabe que esse maldito sonho vai voltar, ele sempre volta.
E ela não acredita em premonição, não sabe apenas se por convicção ou sobrevivência.
Esse golpe seria fatal no seu coração cansado...

-Roberta (Sobre um sonho, que se repete a muitas, muitas e muitas noites).

28 de jul. de 2010

Até a volta

"No centro de um planalto vazio,
como se fosse em qualquer lugar,
como se a vida fosse um perigo,
como se houvesse faca no ar,
como se fosse urgente e preciso,
como é preciso desabafar,
qualquer maneira de amar varia,
Léo e Bia souberam amar.
Como se não fosse tão longe,
Brasilia de Belém do Pará,
como castelos nascem dos sonhos,
pra no real achar seu lugar.
Como se faz com todo cuidado,
a pipa que precisa voar,
cuidar de amor exige mestria
Léo e Bia souberam amar."

-Oswaldo Montenegro.

Quem sabe, entende.
Quem conhece, entende.

Até a volta!

-Roberta

27 de jul. de 2010

Um trecho de semelhanças

"Caminho até o limite da cidade e mudo de direção, para seguir a linha do trem. Ando até o céu escurecer e a lua ficar alta. E por muitas horas mais. Ando até sentir dores nas pernas e bolhas nos pés. Então paro, porque estou cansado e faminto e não tenho a menor idéia de onde estou. É como se eu tivesse andado como um sonâmbulo e de repente tivesse acordado ali.
O único sinal de civilização são os trilhos que descansam num leito de cascalho. De um lado vejo a mata, do outro uma clareira. Vindo de algum lugar próximo ouço um ruído de água gotejando e decido segui-lo. Avanço cautelosamente, guiado pelo luar.
O córrego tem pouco mais de meio metro de largura. Ele corre ao longo das árvores que cercam a margem mais distante da clareira e depois segue mata a dentro. Tiro os sapatos e as meias e me sento à beira do córrego.
Assim que enfio os pés na água gelada eles doem tanto que os retiro imediatamente. Mas insisto e os deixo mergulhados por períodos cada vez mais longos, até as bolhas ficarem dormentes por causa do frio. Depois descanso as solas dos pés contra o leito pedregoso e deixo a água serpentear entre os dedos. Por fim o próprio frio passa a causar dor, e então me deito na margem e recosto a cabeça numa pedra enquanto os pés secam.
Um coiote uiva a distância, um som solitário e familiar. Suspiro e deixo que meus olhos se fechem. Quando um ganido responde ao uivo, apenas alguns metros a minha esquerda, sento-me abruptamente.
O coiote mais distante uiva e dessa vez a resposta é um apito de trem. Enfio as meias e os sapatos e me levanto, fitando atentamente a margem da clareira.
(...)
Saio repentinamente de meu estupor. Tem gente no trem. Não importa a mínima para onde ele vai, pois onde quer que seja, ele me levará para longe dos coiotes e ruma a civilização, à comida, a um possível emprego - talvez até uma passagem de volta a Ithaca, embora eu não tenha nenhum centavo e não haja um motivo sequer para pensar que eles vão em aceitar. E se aceitarem? Não tenho nenhum lar para o qual voltar..."

-Água para Elefantes - Sara Gruen.

Posso me ver, assim como ele salva por um trem...
Que um dia vai partir e eu quero estar embarcada nele!

-Roberta.

24 de jul. de 2010

Pedaços de uma história repetida

Já caminhei quilômetro pela casa, uma jornada sem fim, percorrendo os velhos cômodos já tão conhecidos; Já roí todas as unhas, de forma sistemática, iniciando pelo esmalte coral que antes as cobria, depois passando as unhas e em seguidas as cutículas. Tomei banho, tentei comer, tentei correr, tentei fugir, enquanto espero, de forma cruel, você me dizer qualquer coisa. Essa angústia sem fim, essa coisa que pula no peito, como um animal bravo, que se lança contra as grades de sua jaula. Essa espera... Onde você anda? O que você está pensando? O que você está fazendo? Porque faz isso comigo? É isso que me resta, solidão, angústia e perguntas, enquanto as unicas coisas que eu quero são a sua companhia, a sua paz e as suas respostas. Quero você e não posso ter...

Trecho datado de 03 de janeiro de 2010


Olho o campo e consigo ver o teu contorno me chamando. Mas não corro mais na tua direção. Já subi aquele morro correndo na tua direção muitas vezes, e não suportaria, mais uma vez chegar lá em cima e perceber que nada além da minha solidão me espera... Deve ser o calor que causa essas alucinações, ou o frio que ficou onde teus braços quentes me envolveram e onde não estão mais...

Trecho datado de 03 de janeiro de 2010 - 12:10.


Onde as coisas começaram? Ou onde elas se perderão? Enquanto estavas do meu lado não imaginei que sentiria isso, mas quando te vi partir, tudo mudou. Porque levou meu chão? Minha paz? E me deixou perdida em mim, com as coisas que colocou lá dentro?

Trecho datado de 30 de dezembro de 2009


Pela segunda vez, ,essa noite, acordei com o teu nome preso na garganta e a dor da tua ausência presa no coração. Olhei pela milésima vez o celular e o computador, mas não era ali que você estava, ali não tinha nem sinal de que um dia você tivesse passado pela minha vida. Será que foi uma alucinação o que tivemos? Ou será que tive sozinha?

Trecho datado de 21 de julho 2010.


Será que é um ciclo? Quando penso que as coisas ficaram para trás elas voltam...
Preferia-as guardadas sob a poeira do baú do passado, onde não provocam, não dentro de meu peito, desritmando as batidas cansadas do meu coração.
Você sempre teve o poder de me deixar sem ar, mas porque você o usa?

Trecho datado de 24 de julho de 2010.


Aqui estou eu, novamente, contando os malditos minutos que se arrastam, esperando alguma coisa que não sei, e pedindo pra que você me diga o que precisa dizer, ou ao menos o que eu preciso escutar.
E escrevo, de uma forma cruel, procurando dividir com quem vai ler a dor da minha angústia...

Trecho datado de 24 de julho de 2010 - 14:13.



-Roberta

22 de jul. de 2010

Reminiscências...

"Venha me beijar, meu doce vampiro..."
Assim como na música você me pega, me bebe e me mata pelo simples fato de estar ao meu lado. Eu sou o seu licor, o qual a garrafa acaba a cada dia nos teus lábios sedentos. Meu doce vampiro... Quem quando está comigo, me possui de forma total e completa, que me esgota, mas que quando vai me deixa tão completa como me possuiu. Sem cobranças, nem promessas. Só boca, mãos, corpos e mentes em sintonia, mas não dependentes. E, felizmente podemos dizer: "Hoje mais do que nunca somos dois" e nada nos prende. Nada nos segura, nada nos amarra. Quando juntos nos prendemos um no outro por aquela magia que emana de nossos olhares, e quando separados me sinto livre e ligada a você, como se conseguisse sentir seus olhos me chamando e me prendendo, me deixando sempre livre, me permitindo sempre ser eu e me tornando mais você. Não sei o nome do que temos, é tão sublime e tão sedento que não merece ser reduzido a apenas uma categoria de relacionamento. Temos fome, vontade, sede e desejo. Temos conversas, sexo, beijos e silêncio. Temos eu e você, temos a lua e o sol, temos tudo e temos nada. Nos temos juntos e nada temos ainda sim. E isso não causa angústia, não causa euforia, apenas causa. Com você é tudo tão incerto e tão indefinido, mas ainda seguro. Como chegamos até aqui? E daqui pra frente, para onde vamos? Não importa! Mas vamos juntos e separados. Me sentindo fragmentada e completa, possuída e livre. Você sempre tão presente, sendo ausente. Sendo urgente sem ter pressa. Tão bom viver isso, e hoje não me importa se com ou sem você. Apenas quero te viver e ser vivida por você. Continuar me esgotando no teu corpo, procurando me completar, a medida que me perco de mim e me encontro em você!

22 de fevereiro de 2010.


______

Doces reminiscências...
Se te interessas saber, essa é a saudade que não gosto de ter. Saudade de algo que foi perfeito, a seu modo, e hoje escapa por meus dedos, ainda que mantenha as mãos fechadas...

-Roberta.

21 de jul. de 2010

...

"Você escreve coisas muito tristes" é o que as pessoas dizem.
E eu penso: "Eu vivo essas coisas...", mas não respondo.
Ninguém, além de mim, precisa aguentar o peso dos meus dissabores...

-Roberta

20 de jul. de 2010

Outra vez

Ela olha-se no espelho e o que vê, novamente não a agrada, nunca agradou. Vê os olhos borrados pelas lágrimas que lavam a maquilagem deixando rastros negros, vê as formas confusas, que oras mostram-se sedutoras, oras mostram-se desproporcionadas e vê, no fundo dos olhos turvos, aquela fraqueza novamente. Vê aquele sentimento, que ela pensou ter banido de dentro dela, mas que escondido com um sorriso sarcástico nos lábios insinua que venceu novamente.
Ela não conseguiu novamente. Ele é o vencedor sempre.
Ela procura, na triste figura refletida, o que a torna tão diferente das outras pessoas. O que faz com que ela seja dessa forma, que faz com que ela necessite passar por isso, o que fez com que esse sentimento amargo fixasse residência justo no peito dela. Mesmo que ela busque, ela não acha. Por fora de um jeito, por dentro de outro, como uma maldição, desde sempre.
Ela pensou que ele entenderia, ele que sempre disse que encantará-se com essa fragilidade boba que assombra-a desde sempre, mas não. "Você se traiu novamente." ela pensa, e o sentimento responde: "você é o que você é", afinal de contas, é pra isso que ele está ali, para mostrar todos os dias as incapacidades dela, que ela tanto se empenha em esconder.
Mas é assim.
A menina sabe que escolheu outro a ela, novamente. Ela fecha os olhos, e espreme as mãos contra o peito, tentando não sucumbir as lágrimas grossas que brotam em seus olhos novamente, enquanto pede com toda sua força, que isso não anuncie o que ela já conhece...

-Roberta.

19 de jul. de 2010

Uma carta não enviada.

Lages, 19 de julho de 2010.
Meu querido,

Desculpa-me.
Eu sei que você não entende, e no teu lugar também não entenderia. Mas algo dentro de mim fez com que eu tomasse essa atitude e eu não consegui ir contra isso...
Sei que te magoei, sei que não cumpri com a minha palavra, mas ainda sim sinto que fui fiel aos meus sentimentos e pela primeira vez, quando me olhar no espelho não terei vergonha da minha fraqueza. Pra ti pouco importa, nesse momento, as coisas que eu estou sentindo, mas preciso dizer-te, pois o teu silêncio corta-me como mil facas.
Deves estar pensando porque resolvi, justo contigo, ir a favor de meus sentimentos, e contra os teus. Posso apenar dizer-te desculpa.
As pessoas fazem conosco aquilo que permitimos, e não posso mais me permitir sentir-me assim. Não quero dizer que queres o meu mal, ainda que nesse momento esteja torcendo para que no mínimo eu quebre três dentes, mas é uma questão de defesa, e hoje decidi defender-me de mim mesma. Com isso te magoei, eu sei, e isso me dói profundamente. A dor de ver a ternura transformada em raiva, dentro dos teus olhos cor de âmbar, me dá calafrios e achei que não conseguiria suportar, mas pude perceber que sou muito mais egocêntrica do que realmente imaginei, fui além de mim e fui além de você também... Desculpa.
Pedidos de desculpas não resolvem as coisas, não apagam as mágoas, nem necessariamente exprimem sinceridade. Sei que isso tudo é vazio, nesse momento. Sei que deves estar sentido tamanha raiva de mim, que minhas palavras tornar-se-ão vazias em seus ouvidos, mas ainda sim, é o que resta-me, como já disse-te: Pedir desculpas e esperar que, a seu tempo, você as aceite. Eu vou esperar...
Enfim, nada mais pode ser dito, não é verdade?
Vou estar esperando, que após um banho quente e talvez uma noite de sono (não sei se suportarei essa angústia que me corrói enquanto espero uma palavra sua, nem que seja um xingamento daqueles que lava a alma), você possa não entender nem aceitar, mas pelo menos organizar as coisas que sentes e agente possa voltar e continuar de onde havíamos parado.
Mais uma vez: Desculpa-me.
É só o que eu posso dizer...

Da sua sempre,
Roberta.

17 de jul. de 2010

Feliz Aniversário



Queria poder escrever algo de bonito aqui sem que soasse incrivelmente piegas e meloso, mas não dá.
Ter conhecido você foi um grande marco na minha vida, e com certeza uma das melhores coisas que me aconteceu. Estar contigo sempre torna meus dias melhores, nas horas boas ou ruins. Ter alguém pra compartilhar gostos, cheiros, choros, sorrisos, gargalhadas e sempre, sempre muito drama (não pode faltar) era tudo que eu sempre quis. Eu sempre tive a sensação de que estou sozinha no mundo, e isso não deixa de ser verdade. Nós só temos a nós mesmos e por mais que seja triste admitir, toda e qualquer pessoa na nossa vida é passageira, não importa o tempo que ela permaneça, não é? Mas estar com você me faz sentir menos sozinha na vida. Menos neurótica, menos idiota, menos irritante, menos chorona, menos melodramática, menos exagerada, menos obsessiva, menos clichê, menos personagem de melodrama mexicano, menos com baicha alto estima, menos estranha, menos obcecada pelo Jacob (HUAHUHSUHAUEHUAHUSUEH).
Queria que você soubesse o quanto é bom poder te dar sempre um ombro amigo, (braço, peito, bunda, muito beijo na boca HHAIUHSIUHEIU) receber seu ombro, seus conselhos, suas palavras de conforto, poder dividir as mesmas dores, mesmas preocupações e mesmas vontades (de estrangular certas pessoas). E que embora o tempo passe e as coisas mudem, o meu desejo hoje é que eu pudesse ter você na minha vida pra sempre, mesmo que fosse um pouco de longe.
Parabéns pelo seu dia, meu momores! Veja esse dia como mais uma vitória, e como mais um passo perto de conquistar o que você mais deseja na vida, se é que você sabe o que quer dela, HIUQHQWIUHEQWIUEHQWIU. Mas eu sei o que você não quer. E saiba que eu estou aqui pro que você precisar sempre, e que juntas a gente sempre dá um jeito.

Te amo de verdade, minha linda. Parabéns pelo seu dia.

Beijos ardentes do seu macho machucado de paixão,
Eve


ps: BIXA.

15 de jul. de 2010

O que já dói.

"Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,já que me tratais assim,que delito cometi contra vós outros, nascendo; que, se nasci, já entendo qual delito hei cometido: bastante causa há servido vossa justiça e rigor,pois que o delito maior do homem é ter nascido.
E só quisera saber,para apurar males meus deixando de parte, ó céus,o delito de nascer,em que vos pude ofender por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,que privilégios tiveram como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças que lhe dão beleza suma,apenas é flor de pluma,ou ramalhete com asas,quando as etéreas plagas corta com velocidade,negando-se à piedade do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma,tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele que desenham manchas belas,apenas signo é de estrelas graças ao douto pincel,quando atrevida e cruel,a humana necessidade lhe ensina a ter crueldade, monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto,tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira, aborto de ovas e lamas,e apenas baixel de escamas por sobre as ondas se mira, quando a toda a parte gira, num medir da imensidade coisa tanta capacidade que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio, tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra que entre as flores se desata, e apenas, sepente de prata, por entre as flores se desdobra, já, cantor, celebra a obra da natura em piedade que lhe dá a majestade do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão um vulcão, um Etna feito,quisera arrancar do peito pedaços do coração. Que lei, justiça, ou razão,nega aos homens - ó céu grave!
privilégio tão suave,exceção tão principal,que Deus a deu a um
cristal,ao peixe, à fera, e a uma ave?"
- LA VIDA ES SUEÑO, Ato I, Cena I - de Pedro Calderón de la Barca

Só eu, que tenho mais amor, tenho menos liberdade?
...

12 de jul. de 2010

Impossível fugir

"Em vez disso, limitei-me a ficar deitada em minha cama de meio-dossel, totalmente desperta, sentindo-me mais vazia e solitária do que nunca..."

-A Maré Rebelde - Alison McLeay (p.313)

Não adianta tentar fugir, nem tentar me esconder, a solidão sempre vai preencher os espaços deixados por você...

Bons Amigos

"Ele era um ciumento guardião de nossa privacidade; tiros ainda eram suficientemente dignos de registro nas cidades ribeirinhas para que rumores sobre o incidente na Casa do Mercador tivessem chegado até St. Louis e talvez até mais longe, e Antoine tinha todo o cuidado de nunca dizer nada a nossos companheiros de viagem que pudesse me relacionar com o famigerado saloon. Às vezes era difícil resistir às perguntas durante nosso lento progresso pelo raso rio Ohio, quando as sabatinas mútuas sobre nomes e histórias de familia se tornavam o principal passatempo no convés de carga. O inquisidor mais persistente era um homenzinho gorducho de Whheeling que viu o sotaque e a pele profundamente bronzeada de Antoine como um desafio a suas habilidades de detetive.
- De onde vocês estão vindo?
- Da parte baixa do rio - Antoine respondeu sucintamente.
- E para onde estão indo?
- Para a parte baixa do rio.
- Oh. - O homenzinho de Wheeling digeriu as informações - Você é fazendeiro?
- Não.
- Negociante de cavalos?
- Não.
- Navegador? - perguntou o cidadão de Wheeling, já desesperado.
- Também não.
- Pois então, amigo... o que você faz?
- Eu mato coisas - disse simplesmente Antoine, indicando o longo facão em seu cinto. Nesse ponto o inquisidor voltou às pressas para sua própria turma na visinhança, e fomos deixados em paz pelo resto da viagem..."

-A Maré Rebelde - Alison McLeay (p. 250, 251).

Bons amigos são sempre bem vindos...

8 de jul. de 2010

Pelos olhos tristes

A mãe fala, e a raiva vem, vem com o força, e a menina engasga. Ela sempre engasga com a força dessa raiva, que ultimamente faz parte da vida dela. Essa raiva que a deixa sem ar, que a impede de falar. Essa raiva que ela sente quando não tem vida.
Eles sempre sabem por ela. Eles fazem questão de mandar, enquanto ela fica paralisada pela raiva que a mata. E isso a faz sentir mais raiva...
Porque ela paralisa assim? Porque engasga assim?
Ela queria que gritar que ama ele, e que ninguém vai mudar isso. Ela queria gritar que está sufocando, ela queria gritar que está morrendo. Mas isso pra eles não importa...
O tio olha pra ela e diz: "Isso vai passar, isso dá e passa..." e abraça ela. Enquanto isso a menina pergunta-se: "Será que ele sabe do que está falando? Será que ele consegue ver a minha dor?". O tio havia dito que ela estava diferente, que ele sentia saudades da menina que era feliz, e que fazia feliz... Ele disse que gostaria que aquela menina de olhos triste fosse embora. Ele disse que vai passar... Ele não sabe.
A dor não passa, porque eles fazem doer, e cutucam com a raiva. E ela se sente covarde. Porque ela se esconde, porque ela não grita, porque na frente deles ela nem chora, dedica suas lágrimas somente pra solidão. Porque na frente deles ela só é apática. Porque ela pensa que com eles não adianta falar, porque pra eles é melhor que estivesse morta... e pra ela também. Melhor seria não passar por isso, e quando pensa nisso ela odeia sua covardia.
Ela vai pro seu quarto e fecha a porta. E ali ela chora, chora e morde, e arranha e bate... Ali ela tenta se livrar do que dói. Ela tenta, mas não consegue, isso grudou nela, fez buraco e sangra. Isso mata e faz viver, faz ter raiva, faz sofrer.
E quando a respiração já está ofegante, os dedos vermelhos e as mãos doloridas, ela chora mansinho, quieta e quer com todo seu corpo o colo dele... E quer as mãos dele e a voz baixinha no ouvido dizendo que tudo vai ficar bem... Ela quer a companhia dele que acalma o mundo e cura o coração. Ela quer o abraço dele que é quente, que protege e que esconde ela do mundo, que esconde ela da dor. Ela quer ele, que mudou tudo, que a faz querer viver, e que vê a alma dela através da dor que turva os olhos. Ela o quer...
E eles não conseguem perceber...
Eles só percebem o que eles querem. Eles não querem ela.
E ela queria não querê-los mais também...

-Roberta

7 de jul. de 2010

Para você, meu amor.

"Eu te bendigo cada vez que cevo um mate
Cada vez que a noite bate no meu rancho solidão
Eu te bendigo quando a lágrima sentida,
Embaça as cores da vida, e vem morrer no coração.

(Só você tira a tristeza e aplaca a minha solidão...)

Eu te bendigo no silêncio desses campos
Quando a luz do teu encanto enfeitar os sonhos meus
Eu te bendigo por ser teu o meu apego
e se um dia achar sossego, há de ser nos braços teus

(A tua presença me aquece, me faz feliz. Só ela faz meu dia feliz. E o teu abraço... é quente e me protege, principalmente de mim mesma...)

Por bendizer-te assim, lábios cor de carmim,
Sabor dos nossos mates madrugueiros...
Essa dor que dói em mim, findará com um sim
Da fina luz dos teus olhos luzeiros...

(É nos teus olhos que quero me ver pra sempre, neles sou muito melhor...)

Se te bendigo é por que sei o que digo
Tu és rancho paz e abrigo pra curar a minha dor
Se te bendigo e digo que tenho saudade
Porque amo de verdade, meu desejo minha flor

(Em você tenho segurança. Você aquece meu coração, com a paz dos olhos cor de âmbar. Longe de ti tudo é saudade, por mim, não sairias do meu lado...)

Se te bendigo é porque já senti teu cheiro
Nessas tardes de aguaceiro de encharcar até o olhar
Se te bendigo e digo que o meu rancho espera
Que tu sejas primavera pra florir o meu lugar..."

(É por você que ainda tenho força de esperar, o dia que enfim, serei livre pra te amar sem regras...)

Amo você.

- Jairo Lambari Fernandes.
-(Roberta)

Disfarces

Todos os dias, depois do banho, procuro um disfarçar para usar. Procuro, entre todos o mais apropriado para as exigências do dia que se segue, para as exigências das pessoas a minha volta, para as exigências da minha dor e do meu inferno particular.
Respiro fundo e visto o escolhido, tentando acreditar ser aquilo que visto e disfarço...
Disfarço minha tristeza, que uma vez era algo esporádico e demonstrava uma fragilidade adorável, mas que hoje cravou raízes profundas na minha carne;
Disfarço minha dor por cada palavra engasgada na garganta, como facas paradas na horizontal, que descem dilacerando-me;
Disfarço a minha solidão, que causa arrepios doloridos, que causa feridas, que me faz gritar socorro para ninguém;
Disfarço meu ciúme, minha insegurança e meus desejos, porque não queria te desapontar, disfarço minhas fraquezas...
Disfarço o vazio da tua ausência, pois te queria sempre comigo e você só queria viver...
Disfarço o que sou atrás de histórias mirabolantes, deixando escondido a minha incapacidade de ser interessante.
Disfarço o ser vil que sou, atrás de minha falsa simpatia (se eles soubessem...).
E disfarço meu cansaço. Disfarço-o, porque ninguém entende.
Disfarço o que me mata de forma sádica, lentamente, gozando a cada sopro de vida que se vai...
Assim como eu, que gozo a cada dia que passa.
Cada dia que passa me leva para mais perto das coisas que realmente quero...
O tudo,
e o nada...
disfarçados de você e de fim!

-Roberta.

4 de jul. de 2010

Scarred Over

Desenho por: Evelize"Eu abri a gaveta da cômoda, procurando por um envelope, quando vi as velhas cartas de amor ali guardadas, escondidas sob alguns cadernos. Fechei os olhos e respirei fundo – elas sempre tiveram o poder de me deixar sem ar.
Eu não precisava lê–las para lembrar, tudo voltava à minha mente como um tiro. Como todas as vezes em que parei pra tentar imaginar como ia ser minha vida sem ela.
Realmente, poucas coisas dóem tanto quanto um coração partido. Enquanto eu fechava a gaveta, eu sentia as promessas, os planos, sorrisos, lágrimas, juras de amor eterno – desabando sobre mim.
O que é o amor, no final? O que resta? Minhas pernas já estavam doloridas da corrida, o vento morno e seco batia no meu rosto, o sol queimava meus braços, um nó cego na garganta, os olhos embaçados, estava fugindo pra onde? E de novo, o que resta? Dor, saudade, amargura. Talvez linhas e agulha pra costurar o peito despedaçado, tempo pra curar a alma assolada pela dor das lembranças, coragem pra deixar tudo para trás.
Eu nem lembrava da última vez que havia chorado. Nem pra quem havia chorado – isso se tinha chorado pra alguém. Nunca fui do tipo sentimental. Pelo menos é o que as pessoas pensam sobre mim. Nunca me viram sofrendo, nunca me viram pedir conselhos, nunca me viram no colo de alguém. Desde que eu lembro eu guardo essas coisas só pra mim.
Deslizei os dedos pelo meu rosto. Não eram o bastante pra segurar as lágrimas salgadas que desciam queimando minha pele, contrastando com os pingos de chuva gelada que começaram a cair. O céu estava escuro de repente, a água desabava como se quisesse me castigar e eu deixei que ela o fizesse, esperando que ela lavasse minha alma.
Entrei em casa, me olhei no espelho. Nele estava refletida uma garota de pele alva, cabelos negros, olhos apagados – sangue nas mãos. A dona dos olhos mais tristes que eu já vi. Sua expressão era a de um cadáver – conformado com seu estado, quase que tranqüilo. Tinha cicatrizes nos joelhos, provavelmente das quedas. Mas a mais notável era a no peito esquerdo. Um rombo, aberto do peito à barriga, sangrando. Não era uma ferida recente, tampouco disposta a cicatrizar–se. Mas com o mesmo propósito de qualquer cicatriz. Te lembrar o porquê de ela estar lá."
Evelize - maio 2007.

A Cena


1 - Pelos olhos da raiva

A mulher chega em casa e procura pela menina que devia estar lá. Ela chama, meio sem paciência e quando ninguém responde ela pensa: "ela vai me pagar se tiver saído, ela vai ver só" e com isso chama novamente.
Vai até o quarto da menina, onde ela costuma ficar a maior parte do tempo, debruçada sobre seu computador, fazendo sei lá o que, mas a menina não está lá e a mulher chama, agora com raiva e pensa "menina vagabunda. Ela vai ver só a hora que aparecer..." (ela nem imagina...)
Continua procurando pela casa, procura nos outros quartos, vai lá fora, e nada da menina. Vai até na sala, pega o telefone e disca o número do celular dela, mas quando começa a mensagem de celular desligado, lembra-se que o celular da menina quebrou a dois dias atrás e ela está sem celular agora. Lembra-se do banheiro e pensa: "Será que ela está me fazendo de boba? Que raiva dessa menina, tudo poderia ser diferente se ela não fosse tão diferente..."
A medida que a mulher se aproxima do banheiro, algo dentro dela começa a incomodar. Ela não sabe o que é, mas já sentiu isso outras vezes.
Ela bate na porta do banheiro e ninguém responde, então resolve abrir a porte. A sensação de algo errado torna-se cada vez mais forte, normalmente ela tentaria abrir a porta primeiro, e depois bateria.
Ela vira o trinco e abre a porta devagar.
Quando a porta abre até a metade, permite que a mulher veja onde a menina vagabunda estava.
Ela vê a menina caída, banhada em sangue, no banheiro branco, que agora é vermelho.
Ela não acredita na cena que vê, como? porque? Em cima da pia ela vê um bilhete, pega-o e lê:
"Rasurando o nosso branco, com a mistura do que eu sou..."
A mulher sente-se tonta com o cheiro doce de sangue, tenta virar-se mas não consegue, a cena é grotesca demais. E nisso, tudo ficou preto...

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2 - Pelos olhos da dor

A menina espera todos saírem de casa, pois não suporta mais a inquietação da companhia dessas pessoas. Uma vez ela os amava e era amada, mas agora...
Tem uma coisa no peito da menina que não a deixa quieta, algo que pula e faz o coração bater estranho, algo que não a deixa dormir, algo que não permite que ela respire, algo que não a deixa ser feliz. Algo que dói. A menina lembra-se que vive com isso desde sempre, mas hoje, isso é insuportável.
A menina liga o computador, ultimamente é ali que ela vive, pois é ali que consegue falar com ele, e vê-lo, ainda que longe. cada vez que ela liga o computador, ela espera que ele tenha desistido de tudo, que ele diga que não quer mais, que isso não é pra ele, que ele não merece isso, que ela não merece ele. Isso é tudo que ela não aguentaria e nem queria escutar, mas que se ele lhe falar, ela entenderia, afinal de contas, as complicações são dela e ele não precisaria estar passando por isso...
Mas ainda sim, ele nada disse, ele nem está. deve ter saído...
A menina tenta escrever algo, mas nada lhe vem a cabeça, só aquela idéia, que hoje já é fixa, que ocupa seus pensamentos e a faz pensar nisso, enquanto sua unica saída.
Ela escreve o bilhete, aquele que muitas vezes pensou, pensou em culpá-los de tudo, em pedir desculpas, em escrever poemas. Optou por uma frase: "Rasurando o nosso branco, com a mistura do que eu sou..." A mãe sempre lhe disse que para bom entendedor, meia palavra bastava...
A menina vai a cozinha e escolhe a faca mais afiada.
Vai até o banheiro, que está cheirando a limpo.
Tira os tapetes do chão e guarda-os. Posiciona o bilhete sobre a borda da pia. senta-se no chão e liberta seus demônios.
Enquanto a faca passa, um misto de dor e alivio.
Ela já esperava que para irem embora, os demônios doessem tanto quanto quando ficam dentro dela...
Ela deita e espera: "Agora não deve demorar muito..."
Tudo vai ficando opaco e ela percebe que era os demônios que davam colorido a sua vida.
Dedica seus últimos pensamentos a ele e a filha, eles teriam sido felizes todos juntos...

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Acordei e me perguntei: "Isso foi um sonho ou um pesadelo?"
Não sei dizer...
Não sei o que dói mais...

-Roberta