7 de dez. de 2010

"Gritar pro mundo e saber, que o mundo não presta atenção..."

Ela acordou com aquela sensação, nem o banho gelado as seis da manhã, nem a corrida na academia, nem a tarde de trabalho, nem os vários cigarros em momentos roubados não foram capazes de apaziguar a angustia, nem mesmo o chocolate...
Estava cansada de gritar para dentro de si mesma, queria gritar para o mundo, queria que todos soubessem como ela se sentia. Queria gritar para as amigas para que parassem de pensar em festas de natal e amigos-secretos, queria que ele parasse de fingir que nada havia acontecido, que apenas uma vez, por um breve minuto alguém ouvisse ela cuspir todas as mágoas e depois abraçasse-a, que dissesse que sabia que ela não estava bem, mas que estava ali.
Queria que a chuva caísse com força para lavar a alma, ou que o sol ardesse na pele, queimando toda a angustia.
Assim, foi até o banheiro, e se olhou no espelho, nua. Viu a meia-luz refletir no alto dos seios, fazendo sombra sob eles. Viu o umbigo tornar-se um ponto escuro, viu os quadris e as pernas. Olhou tudo, mas deteve-se no rosto, onde as lágrimas deixavam caminhos negros de rímel. Olhou os olhos tristes já conhecidos, inebriados daquela dor familiar, aquela de saber-se sozinha no mundo. Passou a mão entre os cabelos e por instinto fechou os dedos, arrancando mexas e mais mexas. Deixou que as mãos descessem pelo rosto, sentindo as unhas cravarem na pele do rosto, acompanhando as marcas de maquilagem lavada à lágrimas. Deixou que as unhas descessem rasgando os ombros, os braços e também a barriga. A dor ainda não era o suficiente. Remexeu a gaveta, e no fundo achou a velha lâmina, companheira de outras passagens... Segurou-a forte no braço e puxou. Viu o sangue carmim brotar, lívido; e a dor a preencher como um anestésico. Ao redor do corte fresco, tantas outras cicatrizes... Histórias, ela pensou, minha história contada nas linhas da minha pele.
Ligou o chuveiro e deixou a água queimar sobre o coro cabeludo agredido, o rosto, os braços e a barriga arranhada e sobre o corte novo, fazendo arrepios de dor e rastros de sangue no piso branco. Deitou-se no chão e fechou os olhos por breve cinco minutos, sentindo todas as coisas que queria gritar, saindo, por todas aquelas frestas que ela criara...

- Roberta

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