28 de jul. de 2010

Até a volta

"No centro de um planalto vazio,
como se fosse em qualquer lugar,
como se a vida fosse um perigo,
como se houvesse faca no ar,
como se fosse urgente e preciso,
como é preciso desabafar,
qualquer maneira de amar varia,
Léo e Bia souberam amar.
Como se não fosse tão longe,
Brasilia de Belém do Pará,
como castelos nascem dos sonhos,
pra no real achar seu lugar.
Como se faz com todo cuidado,
a pipa que precisa voar,
cuidar de amor exige mestria
Léo e Bia souberam amar."

-Oswaldo Montenegro.

Quem sabe, entende.
Quem conhece, entende.

Até a volta!

-Roberta

27 de jul. de 2010

Um trecho de semelhanças

"Caminho até o limite da cidade e mudo de direção, para seguir a linha do trem. Ando até o céu escurecer e a lua ficar alta. E por muitas horas mais. Ando até sentir dores nas pernas e bolhas nos pés. Então paro, porque estou cansado e faminto e não tenho a menor idéia de onde estou. É como se eu tivesse andado como um sonâmbulo e de repente tivesse acordado ali.
O único sinal de civilização são os trilhos que descansam num leito de cascalho. De um lado vejo a mata, do outro uma clareira. Vindo de algum lugar próximo ouço um ruído de água gotejando e decido segui-lo. Avanço cautelosamente, guiado pelo luar.
O córrego tem pouco mais de meio metro de largura. Ele corre ao longo das árvores que cercam a margem mais distante da clareira e depois segue mata a dentro. Tiro os sapatos e as meias e me sento à beira do córrego.
Assim que enfio os pés na água gelada eles doem tanto que os retiro imediatamente. Mas insisto e os deixo mergulhados por períodos cada vez mais longos, até as bolhas ficarem dormentes por causa do frio. Depois descanso as solas dos pés contra o leito pedregoso e deixo a água serpentear entre os dedos. Por fim o próprio frio passa a causar dor, e então me deito na margem e recosto a cabeça numa pedra enquanto os pés secam.
Um coiote uiva a distância, um som solitário e familiar. Suspiro e deixo que meus olhos se fechem. Quando um ganido responde ao uivo, apenas alguns metros a minha esquerda, sento-me abruptamente.
O coiote mais distante uiva e dessa vez a resposta é um apito de trem. Enfio as meias e os sapatos e me levanto, fitando atentamente a margem da clareira.
(...)
Saio repentinamente de meu estupor. Tem gente no trem. Não importa a mínima para onde ele vai, pois onde quer que seja, ele me levará para longe dos coiotes e ruma a civilização, à comida, a um possível emprego - talvez até uma passagem de volta a Ithaca, embora eu não tenha nenhum centavo e não haja um motivo sequer para pensar que eles vão em aceitar. E se aceitarem? Não tenho nenhum lar para o qual voltar..."

-Água para Elefantes - Sara Gruen.

Posso me ver, assim como ele salva por um trem...
Que um dia vai partir e eu quero estar embarcada nele!

-Roberta.

24 de jul. de 2010

Pedaços de uma história repetida

Já caminhei quilômetro pela casa, uma jornada sem fim, percorrendo os velhos cômodos já tão conhecidos; Já roí todas as unhas, de forma sistemática, iniciando pelo esmalte coral que antes as cobria, depois passando as unhas e em seguidas as cutículas. Tomei banho, tentei comer, tentei correr, tentei fugir, enquanto espero, de forma cruel, você me dizer qualquer coisa. Essa angústia sem fim, essa coisa que pula no peito, como um animal bravo, que se lança contra as grades de sua jaula. Essa espera... Onde você anda? O que você está pensando? O que você está fazendo? Porque faz isso comigo? É isso que me resta, solidão, angústia e perguntas, enquanto as unicas coisas que eu quero são a sua companhia, a sua paz e as suas respostas. Quero você e não posso ter...

Trecho datado de 03 de janeiro de 2010


Olho o campo e consigo ver o teu contorno me chamando. Mas não corro mais na tua direção. Já subi aquele morro correndo na tua direção muitas vezes, e não suportaria, mais uma vez chegar lá em cima e perceber que nada além da minha solidão me espera... Deve ser o calor que causa essas alucinações, ou o frio que ficou onde teus braços quentes me envolveram e onde não estão mais...

Trecho datado de 03 de janeiro de 2010 - 12:10.


Onde as coisas começaram? Ou onde elas se perderão? Enquanto estavas do meu lado não imaginei que sentiria isso, mas quando te vi partir, tudo mudou. Porque levou meu chão? Minha paz? E me deixou perdida em mim, com as coisas que colocou lá dentro?

Trecho datado de 30 de dezembro de 2009


Pela segunda vez, ,essa noite, acordei com o teu nome preso na garganta e a dor da tua ausência presa no coração. Olhei pela milésima vez o celular e o computador, mas não era ali que você estava, ali não tinha nem sinal de que um dia você tivesse passado pela minha vida. Será que foi uma alucinação o que tivemos? Ou será que tive sozinha?

Trecho datado de 21 de julho 2010.


Será que é um ciclo? Quando penso que as coisas ficaram para trás elas voltam...
Preferia-as guardadas sob a poeira do baú do passado, onde não provocam, não dentro de meu peito, desritmando as batidas cansadas do meu coração.
Você sempre teve o poder de me deixar sem ar, mas porque você o usa?

Trecho datado de 24 de julho de 2010.


Aqui estou eu, novamente, contando os malditos minutos que se arrastam, esperando alguma coisa que não sei, e pedindo pra que você me diga o que precisa dizer, ou ao menos o que eu preciso escutar.
E escrevo, de uma forma cruel, procurando dividir com quem vai ler a dor da minha angústia...

Trecho datado de 24 de julho de 2010 - 14:13.



-Roberta

22 de jul. de 2010

Reminiscências...

"Venha me beijar, meu doce vampiro..."
Assim como na música você me pega, me bebe e me mata pelo simples fato de estar ao meu lado. Eu sou o seu licor, o qual a garrafa acaba a cada dia nos teus lábios sedentos. Meu doce vampiro... Quem quando está comigo, me possui de forma total e completa, que me esgota, mas que quando vai me deixa tão completa como me possuiu. Sem cobranças, nem promessas. Só boca, mãos, corpos e mentes em sintonia, mas não dependentes. E, felizmente podemos dizer: "Hoje mais do que nunca somos dois" e nada nos prende. Nada nos segura, nada nos amarra. Quando juntos nos prendemos um no outro por aquela magia que emana de nossos olhares, e quando separados me sinto livre e ligada a você, como se conseguisse sentir seus olhos me chamando e me prendendo, me deixando sempre livre, me permitindo sempre ser eu e me tornando mais você. Não sei o nome do que temos, é tão sublime e tão sedento que não merece ser reduzido a apenas uma categoria de relacionamento. Temos fome, vontade, sede e desejo. Temos conversas, sexo, beijos e silêncio. Temos eu e você, temos a lua e o sol, temos tudo e temos nada. Nos temos juntos e nada temos ainda sim. E isso não causa angústia, não causa euforia, apenas causa. Com você é tudo tão incerto e tão indefinido, mas ainda seguro. Como chegamos até aqui? E daqui pra frente, para onde vamos? Não importa! Mas vamos juntos e separados. Me sentindo fragmentada e completa, possuída e livre. Você sempre tão presente, sendo ausente. Sendo urgente sem ter pressa. Tão bom viver isso, e hoje não me importa se com ou sem você. Apenas quero te viver e ser vivida por você. Continuar me esgotando no teu corpo, procurando me completar, a medida que me perco de mim e me encontro em você!

22 de fevereiro de 2010.


______

Doces reminiscências...
Se te interessas saber, essa é a saudade que não gosto de ter. Saudade de algo que foi perfeito, a seu modo, e hoje escapa por meus dedos, ainda que mantenha as mãos fechadas...

-Roberta.

21 de jul. de 2010

...

"Você escreve coisas muito tristes" é o que as pessoas dizem.
E eu penso: "Eu vivo essas coisas...", mas não respondo.
Ninguém, além de mim, precisa aguentar o peso dos meus dissabores...

-Roberta

20 de jul. de 2010

Outra vez

Ela olha-se no espelho e o que vê, novamente não a agrada, nunca agradou. Vê os olhos borrados pelas lágrimas que lavam a maquilagem deixando rastros negros, vê as formas confusas, que oras mostram-se sedutoras, oras mostram-se desproporcionadas e vê, no fundo dos olhos turvos, aquela fraqueza novamente. Vê aquele sentimento, que ela pensou ter banido de dentro dela, mas que escondido com um sorriso sarcástico nos lábios insinua que venceu novamente.
Ela não conseguiu novamente. Ele é o vencedor sempre.
Ela procura, na triste figura refletida, o que a torna tão diferente das outras pessoas. O que faz com que ela seja dessa forma, que faz com que ela necessite passar por isso, o que fez com que esse sentimento amargo fixasse residência justo no peito dela. Mesmo que ela busque, ela não acha. Por fora de um jeito, por dentro de outro, como uma maldição, desde sempre.
Ela pensou que ele entenderia, ele que sempre disse que encantará-se com essa fragilidade boba que assombra-a desde sempre, mas não. "Você se traiu novamente." ela pensa, e o sentimento responde: "você é o que você é", afinal de contas, é pra isso que ele está ali, para mostrar todos os dias as incapacidades dela, que ela tanto se empenha em esconder.
Mas é assim.
A menina sabe que escolheu outro a ela, novamente. Ela fecha os olhos, e espreme as mãos contra o peito, tentando não sucumbir as lágrimas grossas que brotam em seus olhos novamente, enquanto pede com toda sua força, que isso não anuncie o que ela já conhece...

-Roberta.

19 de jul. de 2010

Uma carta não enviada.

Lages, 19 de julho de 2010.
Meu querido,

Desculpa-me.
Eu sei que você não entende, e no teu lugar também não entenderia. Mas algo dentro de mim fez com que eu tomasse essa atitude e eu não consegui ir contra isso...
Sei que te magoei, sei que não cumpri com a minha palavra, mas ainda sim sinto que fui fiel aos meus sentimentos e pela primeira vez, quando me olhar no espelho não terei vergonha da minha fraqueza. Pra ti pouco importa, nesse momento, as coisas que eu estou sentindo, mas preciso dizer-te, pois o teu silêncio corta-me como mil facas.
Deves estar pensando porque resolvi, justo contigo, ir a favor de meus sentimentos, e contra os teus. Posso apenar dizer-te desculpa.
As pessoas fazem conosco aquilo que permitimos, e não posso mais me permitir sentir-me assim. Não quero dizer que queres o meu mal, ainda que nesse momento esteja torcendo para que no mínimo eu quebre três dentes, mas é uma questão de defesa, e hoje decidi defender-me de mim mesma. Com isso te magoei, eu sei, e isso me dói profundamente. A dor de ver a ternura transformada em raiva, dentro dos teus olhos cor de âmbar, me dá calafrios e achei que não conseguiria suportar, mas pude perceber que sou muito mais egocêntrica do que realmente imaginei, fui além de mim e fui além de você também... Desculpa.
Pedidos de desculpas não resolvem as coisas, não apagam as mágoas, nem necessariamente exprimem sinceridade. Sei que isso tudo é vazio, nesse momento. Sei que deves estar sentido tamanha raiva de mim, que minhas palavras tornar-se-ão vazias em seus ouvidos, mas ainda sim, é o que resta-me, como já disse-te: Pedir desculpas e esperar que, a seu tempo, você as aceite. Eu vou esperar...
Enfim, nada mais pode ser dito, não é verdade?
Vou estar esperando, que após um banho quente e talvez uma noite de sono (não sei se suportarei essa angústia que me corrói enquanto espero uma palavra sua, nem que seja um xingamento daqueles que lava a alma), você possa não entender nem aceitar, mas pelo menos organizar as coisas que sentes e agente possa voltar e continuar de onde havíamos parado.
Mais uma vez: Desculpa-me.
É só o que eu posso dizer...

Da sua sempre,
Roberta.

17 de jul. de 2010

Feliz Aniversário



Queria poder escrever algo de bonito aqui sem que soasse incrivelmente piegas e meloso, mas não dá.
Ter conhecido você foi um grande marco na minha vida, e com certeza uma das melhores coisas que me aconteceu. Estar contigo sempre torna meus dias melhores, nas horas boas ou ruins. Ter alguém pra compartilhar gostos, cheiros, choros, sorrisos, gargalhadas e sempre, sempre muito drama (não pode faltar) era tudo que eu sempre quis. Eu sempre tive a sensação de que estou sozinha no mundo, e isso não deixa de ser verdade. Nós só temos a nós mesmos e por mais que seja triste admitir, toda e qualquer pessoa na nossa vida é passageira, não importa o tempo que ela permaneça, não é? Mas estar com você me faz sentir menos sozinha na vida. Menos neurótica, menos idiota, menos irritante, menos chorona, menos melodramática, menos exagerada, menos obsessiva, menos clichê, menos personagem de melodrama mexicano, menos com baicha alto estima, menos estranha, menos obcecada pelo Jacob (HUAHUHSUHAUEHUAHUSUEH).
Queria que você soubesse o quanto é bom poder te dar sempre um ombro amigo, (braço, peito, bunda, muito beijo na boca HHAIUHSIUHEIU) receber seu ombro, seus conselhos, suas palavras de conforto, poder dividir as mesmas dores, mesmas preocupações e mesmas vontades (de estrangular certas pessoas). E que embora o tempo passe e as coisas mudem, o meu desejo hoje é que eu pudesse ter você na minha vida pra sempre, mesmo que fosse um pouco de longe.
Parabéns pelo seu dia, meu momores! Veja esse dia como mais uma vitória, e como mais um passo perto de conquistar o que você mais deseja na vida, se é que você sabe o que quer dela, HIUQHQWIUHEQWIUEHQWIU. Mas eu sei o que você não quer. E saiba que eu estou aqui pro que você precisar sempre, e que juntas a gente sempre dá um jeito.

Te amo de verdade, minha linda. Parabéns pelo seu dia.

Beijos ardentes do seu macho machucado de paixão,
Eve


ps: BIXA.

15 de jul. de 2010

O que já dói.

"Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,já que me tratais assim,que delito cometi contra vós outros, nascendo; que, se nasci, já entendo qual delito hei cometido: bastante causa há servido vossa justiça e rigor,pois que o delito maior do homem é ter nascido.
E só quisera saber,para apurar males meus deixando de parte, ó céus,o delito de nascer,em que vos pude ofender por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,que privilégios tiveram como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças que lhe dão beleza suma,apenas é flor de pluma,ou ramalhete com asas,quando as etéreas plagas corta com velocidade,negando-se à piedade do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma,tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele que desenham manchas belas,apenas signo é de estrelas graças ao douto pincel,quando atrevida e cruel,a humana necessidade lhe ensina a ter crueldade, monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto,tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira, aborto de ovas e lamas,e apenas baixel de escamas por sobre as ondas se mira, quando a toda a parte gira, num medir da imensidade coisa tanta capacidade que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio, tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra que entre as flores se desata, e apenas, sepente de prata, por entre as flores se desdobra, já, cantor, celebra a obra da natura em piedade que lhe dá a majestade do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão um vulcão, um Etna feito,quisera arrancar do peito pedaços do coração. Que lei, justiça, ou razão,nega aos homens - ó céu grave!
privilégio tão suave,exceção tão principal,que Deus a deu a um
cristal,ao peixe, à fera, e a uma ave?"
- LA VIDA ES SUEÑO, Ato I, Cena I - de Pedro Calderón de la Barca

Só eu, que tenho mais amor, tenho menos liberdade?
...

12 de jul. de 2010

Impossível fugir

"Em vez disso, limitei-me a ficar deitada em minha cama de meio-dossel, totalmente desperta, sentindo-me mais vazia e solitária do que nunca..."

-A Maré Rebelde - Alison McLeay (p.313)

Não adianta tentar fugir, nem tentar me esconder, a solidão sempre vai preencher os espaços deixados por você...

Bons Amigos

"Ele era um ciumento guardião de nossa privacidade; tiros ainda eram suficientemente dignos de registro nas cidades ribeirinhas para que rumores sobre o incidente na Casa do Mercador tivessem chegado até St. Louis e talvez até mais longe, e Antoine tinha todo o cuidado de nunca dizer nada a nossos companheiros de viagem que pudesse me relacionar com o famigerado saloon. Às vezes era difícil resistir às perguntas durante nosso lento progresso pelo raso rio Ohio, quando as sabatinas mútuas sobre nomes e histórias de familia se tornavam o principal passatempo no convés de carga. O inquisidor mais persistente era um homenzinho gorducho de Whheeling que viu o sotaque e a pele profundamente bronzeada de Antoine como um desafio a suas habilidades de detetive.
- De onde vocês estão vindo?
- Da parte baixa do rio - Antoine respondeu sucintamente.
- E para onde estão indo?
- Para a parte baixa do rio.
- Oh. - O homenzinho de Wheeling digeriu as informações - Você é fazendeiro?
- Não.
- Negociante de cavalos?
- Não.
- Navegador? - perguntou o cidadão de Wheeling, já desesperado.
- Também não.
- Pois então, amigo... o que você faz?
- Eu mato coisas - disse simplesmente Antoine, indicando o longo facão em seu cinto. Nesse ponto o inquisidor voltou às pressas para sua própria turma na visinhança, e fomos deixados em paz pelo resto da viagem..."

-A Maré Rebelde - Alison McLeay (p. 250, 251).

Bons amigos são sempre bem vindos...

8 de jul. de 2010

Pelos olhos tristes

A mãe fala, e a raiva vem, vem com o força, e a menina engasga. Ela sempre engasga com a força dessa raiva, que ultimamente faz parte da vida dela. Essa raiva que a deixa sem ar, que a impede de falar. Essa raiva que ela sente quando não tem vida.
Eles sempre sabem por ela. Eles fazem questão de mandar, enquanto ela fica paralisada pela raiva que a mata. E isso a faz sentir mais raiva...
Porque ela paralisa assim? Porque engasga assim?
Ela queria que gritar que ama ele, e que ninguém vai mudar isso. Ela queria gritar que está sufocando, ela queria gritar que está morrendo. Mas isso pra eles não importa...
O tio olha pra ela e diz: "Isso vai passar, isso dá e passa..." e abraça ela. Enquanto isso a menina pergunta-se: "Será que ele sabe do que está falando? Será que ele consegue ver a minha dor?". O tio havia dito que ela estava diferente, que ele sentia saudades da menina que era feliz, e que fazia feliz... Ele disse que gostaria que aquela menina de olhos triste fosse embora. Ele disse que vai passar... Ele não sabe.
A dor não passa, porque eles fazem doer, e cutucam com a raiva. E ela se sente covarde. Porque ela se esconde, porque ela não grita, porque na frente deles ela nem chora, dedica suas lágrimas somente pra solidão. Porque na frente deles ela só é apática. Porque ela pensa que com eles não adianta falar, porque pra eles é melhor que estivesse morta... e pra ela também. Melhor seria não passar por isso, e quando pensa nisso ela odeia sua covardia.
Ela vai pro seu quarto e fecha a porta. E ali ela chora, chora e morde, e arranha e bate... Ali ela tenta se livrar do que dói. Ela tenta, mas não consegue, isso grudou nela, fez buraco e sangra. Isso mata e faz viver, faz ter raiva, faz sofrer.
E quando a respiração já está ofegante, os dedos vermelhos e as mãos doloridas, ela chora mansinho, quieta e quer com todo seu corpo o colo dele... E quer as mãos dele e a voz baixinha no ouvido dizendo que tudo vai ficar bem... Ela quer a companhia dele que acalma o mundo e cura o coração. Ela quer o abraço dele que é quente, que protege e que esconde ela do mundo, que esconde ela da dor. Ela quer ele, que mudou tudo, que a faz querer viver, e que vê a alma dela através da dor que turva os olhos. Ela o quer...
E eles não conseguem perceber...
Eles só percebem o que eles querem. Eles não querem ela.
E ela queria não querê-los mais também...

-Roberta

7 de jul. de 2010

Para você, meu amor.

"Eu te bendigo cada vez que cevo um mate
Cada vez que a noite bate no meu rancho solidão
Eu te bendigo quando a lágrima sentida,
Embaça as cores da vida, e vem morrer no coração.

(Só você tira a tristeza e aplaca a minha solidão...)

Eu te bendigo no silêncio desses campos
Quando a luz do teu encanto enfeitar os sonhos meus
Eu te bendigo por ser teu o meu apego
e se um dia achar sossego, há de ser nos braços teus

(A tua presença me aquece, me faz feliz. Só ela faz meu dia feliz. E o teu abraço... é quente e me protege, principalmente de mim mesma...)

Por bendizer-te assim, lábios cor de carmim,
Sabor dos nossos mates madrugueiros...
Essa dor que dói em mim, findará com um sim
Da fina luz dos teus olhos luzeiros...

(É nos teus olhos que quero me ver pra sempre, neles sou muito melhor...)

Se te bendigo é por que sei o que digo
Tu és rancho paz e abrigo pra curar a minha dor
Se te bendigo e digo que tenho saudade
Porque amo de verdade, meu desejo minha flor

(Em você tenho segurança. Você aquece meu coração, com a paz dos olhos cor de âmbar. Longe de ti tudo é saudade, por mim, não sairias do meu lado...)

Se te bendigo é porque já senti teu cheiro
Nessas tardes de aguaceiro de encharcar até o olhar
Se te bendigo e digo que o meu rancho espera
Que tu sejas primavera pra florir o meu lugar..."

(É por você que ainda tenho força de esperar, o dia que enfim, serei livre pra te amar sem regras...)

Amo você.

- Jairo Lambari Fernandes.
-(Roberta)

Disfarces

Todos os dias, depois do banho, procuro um disfarçar para usar. Procuro, entre todos o mais apropriado para as exigências do dia que se segue, para as exigências das pessoas a minha volta, para as exigências da minha dor e do meu inferno particular.
Respiro fundo e visto o escolhido, tentando acreditar ser aquilo que visto e disfarço...
Disfarço minha tristeza, que uma vez era algo esporádico e demonstrava uma fragilidade adorável, mas que hoje cravou raízes profundas na minha carne;
Disfarço minha dor por cada palavra engasgada na garganta, como facas paradas na horizontal, que descem dilacerando-me;
Disfarço a minha solidão, que causa arrepios doloridos, que causa feridas, que me faz gritar socorro para ninguém;
Disfarço meu ciúme, minha insegurança e meus desejos, porque não queria te desapontar, disfarço minhas fraquezas...
Disfarço o vazio da tua ausência, pois te queria sempre comigo e você só queria viver...
Disfarço o que sou atrás de histórias mirabolantes, deixando escondido a minha incapacidade de ser interessante.
Disfarço o ser vil que sou, atrás de minha falsa simpatia (se eles soubessem...).
E disfarço meu cansaço. Disfarço-o, porque ninguém entende.
Disfarço o que me mata de forma sádica, lentamente, gozando a cada sopro de vida que se vai...
Assim como eu, que gozo a cada dia que passa.
Cada dia que passa me leva para mais perto das coisas que realmente quero...
O tudo,
e o nada...
disfarçados de você e de fim!

-Roberta.

4 de jul. de 2010

Scarred Over

Desenho por: Evelize"Eu abri a gaveta da cômoda, procurando por um envelope, quando vi as velhas cartas de amor ali guardadas, escondidas sob alguns cadernos. Fechei os olhos e respirei fundo – elas sempre tiveram o poder de me deixar sem ar.
Eu não precisava lê–las para lembrar, tudo voltava à minha mente como um tiro. Como todas as vezes em que parei pra tentar imaginar como ia ser minha vida sem ela.
Realmente, poucas coisas dóem tanto quanto um coração partido. Enquanto eu fechava a gaveta, eu sentia as promessas, os planos, sorrisos, lágrimas, juras de amor eterno – desabando sobre mim.
O que é o amor, no final? O que resta? Minhas pernas já estavam doloridas da corrida, o vento morno e seco batia no meu rosto, o sol queimava meus braços, um nó cego na garganta, os olhos embaçados, estava fugindo pra onde? E de novo, o que resta? Dor, saudade, amargura. Talvez linhas e agulha pra costurar o peito despedaçado, tempo pra curar a alma assolada pela dor das lembranças, coragem pra deixar tudo para trás.
Eu nem lembrava da última vez que havia chorado. Nem pra quem havia chorado – isso se tinha chorado pra alguém. Nunca fui do tipo sentimental. Pelo menos é o que as pessoas pensam sobre mim. Nunca me viram sofrendo, nunca me viram pedir conselhos, nunca me viram no colo de alguém. Desde que eu lembro eu guardo essas coisas só pra mim.
Deslizei os dedos pelo meu rosto. Não eram o bastante pra segurar as lágrimas salgadas que desciam queimando minha pele, contrastando com os pingos de chuva gelada que começaram a cair. O céu estava escuro de repente, a água desabava como se quisesse me castigar e eu deixei que ela o fizesse, esperando que ela lavasse minha alma.
Entrei em casa, me olhei no espelho. Nele estava refletida uma garota de pele alva, cabelos negros, olhos apagados – sangue nas mãos. A dona dos olhos mais tristes que eu já vi. Sua expressão era a de um cadáver – conformado com seu estado, quase que tranqüilo. Tinha cicatrizes nos joelhos, provavelmente das quedas. Mas a mais notável era a no peito esquerdo. Um rombo, aberto do peito à barriga, sangrando. Não era uma ferida recente, tampouco disposta a cicatrizar–se. Mas com o mesmo propósito de qualquer cicatriz. Te lembrar o porquê de ela estar lá."
Evelize - maio 2007.

A Cena


1 - Pelos olhos da raiva

A mulher chega em casa e procura pela menina que devia estar lá. Ela chama, meio sem paciência e quando ninguém responde ela pensa: "ela vai me pagar se tiver saído, ela vai ver só" e com isso chama novamente.
Vai até o quarto da menina, onde ela costuma ficar a maior parte do tempo, debruçada sobre seu computador, fazendo sei lá o que, mas a menina não está lá e a mulher chama, agora com raiva e pensa "menina vagabunda. Ela vai ver só a hora que aparecer..." (ela nem imagina...)
Continua procurando pela casa, procura nos outros quartos, vai lá fora, e nada da menina. Vai até na sala, pega o telefone e disca o número do celular dela, mas quando começa a mensagem de celular desligado, lembra-se que o celular da menina quebrou a dois dias atrás e ela está sem celular agora. Lembra-se do banheiro e pensa: "Será que ela está me fazendo de boba? Que raiva dessa menina, tudo poderia ser diferente se ela não fosse tão diferente..."
A medida que a mulher se aproxima do banheiro, algo dentro dela começa a incomodar. Ela não sabe o que é, mas já sentiu isso outras vezes.
Ela bate na porta do banheiro e ninguém responde, então resolve abrir a porte. A sensação de algo errado torna-se cada vez mais forte, normalmente ela tentaria abrir a porta primeiro, e depois bateria.
Ela vira o trinco e abre a porta devagar.
Quando a porta abre até a metade, permite que a mulher veja onde a menina vagabunda estava.
Ela vê a menina caída, banhada em sangue, no banheiro branco, que agora é vermelho.
Ela não acredita na cena que vê, como? porque? Em cima da pia ela vê um bilhete, pega-o e lê:
"Rasurando o nosso branco, com a mistura do que eu sou..."
A mulher sente-se tonta com o cheiro doce de sangue, tenta virar-se mas não consegue, a cena é grotesca demais. E nisso, tudo ficou preto...

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2 - Pelos olhos da dor

A menina espera todos saírem de casa, pois não suporta mais a inquietação da companhia dessas pessoas. Uma vez ela os amava e era amada, mas agora...
Tem uma coisa no peito da menina que não a deixa quieta, algo que pula e faz o coração bater estranho, algo que não a deixa dormir, algo que não permite que ela respire, algo que não a deixa ser feliz. Algo que dói. A menina lembra-se que vive com isso desde sempre, mas hoje, isso é insuportável.
A menina liga o computador, ultimamente é ali que ela vive, pois é ali que consegue falar com ele, e vê-lo, ainda que longe. cada vez que ela liga o computador, ela espera que ele tenha desistido de tudo, que ele diga que não quer mais, que isso não é pra ele, que ele não merece isso, que ela não merece ele. Isso é tudo que ela não aguentaria e nem queria escutar, mas que se ele lhe falar, ela entenderia, afinal de contas, as complicações são dela e ele não precisaria estar passando por isso...
Mas ainda sim, ele nada disse, ele nem está. deve ter saído...
A menina tenta escrever algo, mas nada lhe vem a cabeça, só aquela idéia, que hoje já é fixa, que ocupa seus pensamentos e a faz pensar nisso, enquanto sua unica saída.
Ela escreve o bilhete, aquele que muitas vezes pensou, pensou em culpá-los de tudo, em pedir desculpas, em escrever poemas. Optou por uma frase: "Rasurando o nosso branco, com a mistura do que eu sou..." A mãe sempre lhe disse que para bom entendedor, meia palavra bastava...
A menina vai a cozinha e escolhe a faca mais afiada.
Vai até o banheiro, que está cheirando a limpo.
Tira os tapetes do chão e guarda-os. Posiciona o bilhete sobre a borda da pia. senta-se no chão e liberta seus demônios.
Enquanto a faca passa, um misto de dor e alivio.
Ela já esperava que para irem embora, os demônios doessem tanto quanto quando ficam dentro dela...
Ela deita e espera: "Agora não deve demorar muito..."
Tudo vai ficando opaco e ela percebe que era os demônios que davam colorido a sua vida.
Dedica seus últimos pensamentos a ele e a filha, eles teriam sido felizes todos juntos...

_______________

Acordei e me perguntei: "Isso foi um sonho ou um pesadelo?"
Não sei dizer...
Não sei o que dói mais...

-Roberta

3 de jul. de 2010

Solidão e dor

Minha vida é chata, chata e presa.
Como um animal que não tem por onde fugir, fico atrás dessas grades olhando a vida lá fora que se passa de forma alegre, enquanto aqui dentro, tudo são sombras... (e solidão)
Nada pra fazer a não ser afundar-me, cada vez mais, nos meus demônios, nas minhas dores, nos meus fracassos. Nada pra fazer, ninguém pra ver, nada pelo que ser feliz.
Só sombras...
"Gritar pro mundo e saber, que o mundo não presta atenção..."
As pessoas olham e não sabem porque me comporto assim, elas não sabem como a minha vida é.
Elas dizem que eu tenho tudo que se pode querer, mas eu não quero.
Em um surto de ingratidão, eu não quero.
Não quero nada, eu não quero nada.
Eu quero o que não tenho, e que espero ansiosamente desde o dia em que nasci.
Quero apenas sair, e não voltar.
Quero me livrar do que dói, e não para nunca.
Quero abandonar o que não sou, não quero e não consigo ser.
Quero deixar você, solidão, pra trás.
Quero deixar esses demônios presos, em lugar onde eles não voltem a me atormentar mais.
Quero poder parar de escrever, pois só escrevo quando algo dói, procurando disfarçar as feridas que não cicatrizam, pelo menos enquanto o sol não brilhar por aqui....

-Roberta

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A minha dor

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal…
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias…

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…


-Florbela Espanca.

1 de jul. de 2010

"Eu não vivi, eu colecionei memórias..."

É assim que começa, sem viver. Apenas vendo as coisas que passaram enquanto eu olhava e assistia... Eu não vivi, e continuo não vivendo. Antes por ignorância, hoje por falta de possibilidade. Antes por achar que viver bem era não se envolver, não se expor, não se mostrar, não sofrer.
Hoje porque estou envolvida até o último fio de cabelo, sem conseguir olhar pra fora; porque estou totalmente exposta, sem defesas nenhuma, apenas eu; porque estou a mostra, com todos os meus piores defeitos, sem censuras; porque o sofrimento já é parte integrante de mim, sem a qual não mais me reconheço como sendo eu mesma...
Não vivo porque fico olhando pela janela as coisas acontecerem, ao invés de estar na rua, acontecendo junto as coisas. porque estou presa. E dessa vida, não quero mais nada do que tenho. Trocaria tudo, todas as angustias, todos os sofrimentos, todas as lembranças e ainda a maioria das pessoas por um pouco de mim mesma. Troco tudo por silêncio, troco tudo por paz, troco tudo por solidão. Porque sem viver, melhor não viver sozinha... (do que impedir a vida dos outros)...

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Eu...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada, a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam de triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por que...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

 - Florbela Espanca.