8 de jul. de 2010

Pelos olhos tristes

A mãe fala, e a raiva vem, vem com o força, e a menina engasga. Ela sempre engasga com a força dessa raiva, que ultimamente faz parte da vida dela. Essa raiva que a deixa sem ar, que a impede de falar. Essa raiva que ela sente quando não tem vida.
Eles sempre sabem por ela. Eles fazem questão de mandar, enquanto ela fica paralisada pela raiva que a mata. E isso a faz sentir mais raiva...
Porque ela paralisa assim? Porque engasga assim?
Ela queria que gritar que ama ele, e que ninguém vai mudar isso. Ela queria gritar que está sufocando, ela queria gritar que está morrendo. Mas isso pra eles não importa...
O tio olha pra ela e diz: "Isso vai passar, isso dá e passa..." e abraça ela. Enquanto isso a menina pergunta-se: "Será que ele sabe do que está falando? Será que ele consegue ver a minha dor?". O tio havia dito que ela estava diferente, que ele sentia saudades da menina que era feliz, e que fazia feliz... Ele disse que gostaria que aquela menina de olhos triste fosse embora. Ele disse que vai passar... Ele não sabe.
A dor não passa, porque eles fazem doer, e cutucam com a raiva. E ela se sente covarde. Porque ela se esconde, porque ela não grita, porque na frente deles ela nem chora, dedica suas lágrimas somente pra solidão. Porque na frente deles ela só é apática. Porque ela pensa que com eles não adianta falar, porque pra eles é melhor que estivesse morta... e pra ela também. Melhor seria não passar por isso, e quando pensa nisso ela odeia sua covardia.
Ela vai pro seu quarto e fecha a porta. E ali ela chora, chora e morde, e arranha e bate... Ali ela tenta se livrar do que dói. Ela tenta, mas não consegue, isso grudou nela, fez buraco e sangra. Isso mata e faz viver, faz ter raiva, faz sofrer.
E quando a respiração já está ofegante, os dedos vermelhos e as mãos doloridas, ela chora mansinho, quieta e quer com todo seu corpo o colo dele... E quer as mãos dele e a voz baixinha no ouvido dizendo que tudo vai ficar bem... Ela quer a companhia dele que acalma o mundo e cura o coração. Ela quer o abraço dele que é quente, que protege e que esconde ela do mundo, que esconde ela da dor. Ela quer ele, que mudou tudo, que a faz querer viver, e que vê a alma dela através da dor que turva os olhos. Ela o quer...
E eles não conseguem perceber...
Eles só percebem o que eles querem. Eles não querem ela.
E ela queria não querê-los mais também...

-Roberta

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