27 de jul. de 2010

Um trecho de semelhanças

"Caminho até o limite da cidade e mudo de direção, para seguir a linha do trem. Ando até o céu escurecer e a lua ficar alta. E por muitas horas mais. Ando até sentir dores nas pernas e bolhas nos pés. Então paro, porque estou cansado e faminto e não tenho a menor idéia de onde estou. É como se eu tivesse andado como um sonâmbulo e de repente tivesse acordado ali.
O único sinal de civilização são os trilhos que descansam num leito de cascalho. De um lado vejo a mata, do outro uma clareira. Vindo de algum lugar próximo ouço um ruído de água gotejando e decido segui-lo. Avanço cautelosamente, guiado pelo luar.
O córrego tem pouco mais de meio metro de largura. Ele corre ao longo das árvores que cercam a margem mais distante da clareira e depois segue mata a dentro. Tiro os sapatos e as meias e me sento à beira do córrego.
Assim que enfio os pés na água gelada eles doem tanto que os retiro imediatamente. Mas insisto e os deixo mergulhados por períodos cada vez mais longos, até as bolhas ficarem dormentes por causa do frio. Depois descanso as solas dos pés contra o leito pedregoso e deixo a água serpentear entre os dedos. Por fim o próprio frio passa a causar dor, e então me deito na margem e recosto a cabeça numa pedra enquanto os pés secam.
Um coiote uiva a distância, um som solitário e familiar. Suspiro e deixo que meus olhos se fechem. Quando um ganido responde ao uivo, apenas alguns metros a minha esquerda, sento-me abruptamente.
O coiote mais distante uiva e dessa vez a resposta é um apito de trem. Enfio as meias e os sapatos e me levanto, fitando atentamente a margem da clareira.
(...)
Saio repentinamente de meu estupor. Tem gente no trem. Não importa a mínima para onde ele vai, pois onde quer que seja, ele me levará para longe dos coiotes e ruma a civilização, à comida, a um possível emprego - talvez até uma passagem de volta a Ithaca, embora eu não tenha nenhum centavo e não haja um motivo sequer para pensar que eles vão em aceitar. E se aceitarem? Não tenho nenhum lar para o qual voltar..."

-Água para Elefantes - Sara Gruen.

Posso me ver, assim como ele salva por um trem...
Que um dia vai partir e eu quero estar embarcada nele!

-Roberta.

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