4 de jul. de 2010

Scarred Over

Desenho por: Evelize"Eu abri a gaveta da cômoda, procurando por um envelope, quando vi as velhas cartas de amor ali guardadas, escondidas sob alguns cadernos. Fechei os olhos e respirei fundo – elas sempre tiveram o poder de me deixar sem ar.
Eu não precisava lê–las para lembrar, tudo voltava à minha mente como um tiro. Como todas as vezes em que parei pra tentar imaginar como ia ser minha vida sem ela.
Realmente, poucas coisas dóem tanto quanto um coração partido. Enquanto eu fechava a gaveta, eu sentia as promessas, os planos, sorrisos, lágrimas, juras de amor eterno – desabando sobre mim.
O que é o amor, no final? O que resta? Minhas pernas já estavam doloridas da corrida, o vento morno e seco batia no meu rosto, o sol queimava meus braços, um nó cego na garganta, os olhos embaçados, estava fugindo pra onde? E de novo, o que resta? Dor, saudade, amargura. Talvez linhas e agulha pra costurar o peito despedaçado, tempo pra curar a alma assolada pela dor das lembranças, coragem pra deixar tudo para trás.
Eu nem lembrava da última vez que havia chorado. Nem pra quem havia chorado – isso se tinha chorado pra alguém. Nunca fui do tipo sentimental. Pelo menos é o que as pessoas pensam sobre mim. Nunca me viram sofrendo, nunca me viram pedir conselhos, nunca me viram no colo de alguém. Desde que eu lembro eu guardo essas coisas só pra mim.
Deslizei os dedos pelo meu rosto. Não eram o bastante pra segurar as lágrimas salgadas que desciam queimando minha pele, contrastando com os pingos de chuva gelada que começaram a cair. O céu estava escuro de repente, a água desabava como se quisesse me castigar e eu deixei que ela o fizesse, esperando que ela lavasse minha alma.
Entrei em casa, me olhei no espelho. Nele estava refletida uma garota de pele alva, cabelos negros, olhos apagados – sangue nas mãos. A dona dos olhos mais tristes que eu já vi. Sua expressão era a de um cadáver – conformado com seu estado, quase que tranqüilo. Tinha cicatrizes nos joelhos, provavelmente das quedas. Mas a mais notável era a no peito esquerdo. Um rombo, aberto do peito à barriga, sangrando. Não era uma ferida recente, tampouco disposta a cicatrizar–se. Mas com o mesmo propósito de qualquer cicatriz. Te lembrar o porquê de ela estar lá."
Evelize - maio 2007.

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