1 de jul. de 2010

"Eu não vivi, eu colecionei memórias..."

É assim que começa, sem viver. Apenas vendo as coisas que passaram enquanto eu olhava e assistia... Eu não vivi, e continuo não vivendo. Antes por ignorância, hoje por falta de possibilidade. Antes por achar que viver bem era não se envolver, não se expor, não se mostrar, não sofrer.
Hoje porque estou envolvida até o último fio de cabelo, sem conseguir olhar pra fora; porque estou totalmente exposta, sem defesas nenhuma, apenas eu; porque estou a mostra, com todos os meus piores defeitos, sem censuras; porque o sofrimento já é parte integrante de mim, sem a qual não mais me reconheço como sendo eu mesma...
Não vivo porque fico olhando pela janela as coisas acontecerem, ao invés de estar na rua, acontecendo junto as coisas. porque estou presa. E dessa vida, não quero mais nada do que tenho. Trocaria tudo, todas as angustias, todos os sofrimentos, todas as lembranças e ainda a maioria das pessoas por um pouco de mim mesma. Troco tudo por silêncio, troco tudo por paz, troco tudo por solidão. Porque sem viver, melhor não viver sozinha... (do que impedir a vida dos outros)...

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Eu...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada, a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam de triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por que...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

 - Florbela Espanca.

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