6 de ago. de 2010

Compulsão à repetição

De repente, tudo é escuro e sozinho. Se não fosse pelas vozes, que falam e riem, conversam sem se dar do conta do que acontece, ela pensaria não haver outras pessoas a sua volta, mas há. Há e ela sabe que ele está, pode senti-lo.
Ela caminha, caminha e caminha, tentando se aproximar daquelas vozes felizes, afinal de contas, ela também quer ser feliz. Ela caminha e não chega. O escuro que transbordou de sua alma cobre tudo como um manto, impedindo que se veja a felicidade, , é possível apenas ouvi-la das bocas alheias. Enquanto procura, começa a se desesperar, pois sabe estar perto dele, mas não vê-lo sempre a deixa sem ar. Ela continua a procurar e acaba esbarrando em algo. Sabe o que é, ou melhor, quem é! Esse cheiro, hoje, é inconfundivel. É cheiro de segurança, de amor, de paraíso e de saudade. É cheiro que envolve e que faz lembrar os melhores momentos. É o cheiro dele, aquele cheiro que emana da pele morena a cada movimento. Ela esbarra, nela as coisas se alvoroçam. Sente-se viva, mas nele nada acontece. Encosta-se nele, colando o ouvido nas costas largas e sente a vibração da voz e o arfar da respiração e abraçada a ele percebe que este não sabe que ela está ali. É nesse momento que a angústia começa; ele não sabe. Ela grita, mas ele continua rindo, ela chama e implora, mas ele não interrompe a conversa. Ela gruda-se a ela, aperta, sacode e nada. Nem mesmo as lágrimas grossas que encharcam-lhe a blusa, ele parece sentir. Um arrepio de dor percorre o corpo dela, será que ele a esqueceu? Ou será que pra ele, ela nunca existiu? Ela não sabe o que fazer, apenas fica, agarrada a ele, gritando e chorando, chamando-o, mas ele nada. Ele fala de uma menina boba, que muitas vezes chorou no seu ombro, que outras vezes riu até ficar sem ar na sua cama, que muitas vezes tentou ser sensual para agradá-lo. E entre risadas sinceras, conta as coisas que essa menina fez, e como, quanto mais importante tentou ser, mas insignificante se tornou. "Coitada, ela acreditou no amor" ele diz e ri. Nesse momento, ela sente como se milhares de facas lhe atravessassem o corpo. Nunca sentiu nada tão doido. Ao fundo, ouve alguém chamando-a: "Amor, amor". É aquela voz, aquela voz de veludo que sussurra no seu ouvido. Ela acorda e em um misto de dor e alivio, olha dentro dos olhos cor de âmbar e tenta ver se ali alguma coisa mudou. Ela respira fundo e tenta conter as lágrimas. Encontra seu lugar entre aqueles braços e ouve ele dizer, próximo a seu ouvido: "Pesadelo de novo amor? Passou...". Ela sabe que passou. Pelo menos dessa vez.
Mas ela sabe que esse maldito sonho vai voltar, ele sempre volta.
E ela não acredita em premonição, não sabe apenas se por convicção ou sobrevivência.
Esse golpe seria fatal no seu coração cansado...

-Roberta (Sobre um sonho, que se repete a muitas, muitas e muitas noites).

Nenhum comentário:

Postar um comentário