22 de ago. de 2010

Menos mais um

Acorda, faz mamá, liga a TV, chama para o banho, chama para o banho outra vez, coloca no banho, lava, seca, arruma. Entra no banho, lava, seca, arruma. Almoça, escova os dentes, chama pra escovar os dentes, chama outra vez para escovar os dentes, sai correndo, deixa na escola, chega atrasada no trabalho. Ufa! Saí do piloto automático e sente o peito apertado de cansaço. O dia mal começou, melhor que estivesse terminando.
Sai da aula, corre pra casa, chega em casa, responde perguntas, chama pra escovar os dentes, chama pra escovar os dentes outra vez, escuta as ameaças e os xingamentos, escova os dentes, lava, seca, arruma. Põe na cama, faz mamá, liga a TV, senta do lado, espera dormir, coloca na cama. E terminou... Mais um dia, finalmente. Olha no relógio: são 00:29, sabe que agora começa seu dia, os momentos que tem pra si mesma, os momentos que respira fundo e consegue sentir. Os momentos em que escreve pra desabafar, respira pra acalmar e chora pra viver.
Um dia a menos na contagem regressiva. E ela espera, não sabia esperar, mas a maternidade lhe trouxe esse dom, fingir ter paciência, mesmo que o corpo trema e o coração esteja explodindo, ainda que a vontade seja matar ou morrer. Paciência de ver o sol trazer mais um dia e fazer tudo outra vez, do mesmo jeito. Não se esforça pra ser melhor, não tem forças, concentra seu esforço apenas em repetir, tudo igual, sem vida, nem cor, só fazer. Obrigações cumpridas são obrigações cobradas de uma maneira menos agressiva. Precisa se concentrar em não responder aos olhares reprovadores, em não fugir, em não desmoronar. Precisa se esforçar em se manter afastada para manter a sanidade mental.
Está no fim, e por mais assustador que isso possa soar, é mais agradável que a repetição que esmaga, que faz o coração querer rasgar o peito e a deixa sem ar... Ansiedade ao desconhecido? Um pouco talvez, mas muito mais saco cheio do tão, tão, tão, tão, tão repetido...

-Roberta

*Faltam 489 dias para a vida começar.

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