26 de jun. de 2010

Morrer

"- Não peço cousa nenhuma - retorquiu o menino - Todo mundo vai morrer um dia.
- Que menino - gemeu Clara - De onde vosmecê tirou essas cousas?
- Foi vó Caetana quem me disse. E é verdade. Eu já vi um monte de gente morrer.
Tomázia segurou o filho perto de si. Fisicamente, tão parecido com o pai; ela temia por aquele temperamento angustioso e inquieto.
- A gente não morre, meu filho. Vai-se viver com Deus.
Jango deu de ombros. Seus olhos negros luziram, e ele retrucou antes de sair correndo para o campo alagado com a chuva:
- Deus não vive em baixo da terra onde colocam os mortos...
E desapareceu sob a garoa fina antes que a mãe lhe desse qualquer reprimenda.
Tomázia tomou a mão da sobrinha:
- Fique tranqüila, Amélia. Jango não sabe o que diz. É, somente que os meninos estão afoitos com a guerra. Mas vai ficar tudo bem..."

-Leticia Wierchowski - Um Farol no Pampa (p. 236)


Sinto muito amiga...


Nenhum comentário:

Postar um comentário